segunda-feira, 30 de junho de 2008

Considerações sobre experiência dos G.Vs.

Considerações sobre experiência dos Ginásios Vocacionais do Estado de S.Paulo

S.E.V.

Texto desenvolvido por de pais de alunos

Textos Vocacionais


Histórico

A Idéia do nosso trabalho sobre a experiência educacional no Ginásio Vocacional surgiu na 1ª. palestra do curso de Instrumentação para o Ensino de Física, quando nas discussões foi abordado o problema do ensino profissionalizante. Notamos que a experiência do Ginásio Vocacional talvez se constituísse numa alternativa humanística para este tipo de ensino, embora não tivéssemos certeza desse fato. Pensamos então em pesquisar e analisar o que foi esta experiência e dependendo dos resultados continuaríamos o projeto com objetivo de sugerir uma linda de trabalho que seria uma contraposição às propostas de ensino existentes hoje, no Brasil.

Inicialmente enfocaríamos a experiência no ensino das ciências. Depois verificamos que no tocante à Física a experiência foi menos intensa, não tendo sido concluída ,pois o colégio passou a integrar a rede de estabelecimento de ensino oficial, mudando sua orientação filosófico–pedagógica (os motivos que levaram a esta mudança não será tratados em nosso trabalho. Sendo assim restringimos nosso trabalho ao levantamento de informações, analise e divulgação da experiência do Ginásio Vocacional na área de Ciências.

Para obtenção de dados realizamos contatos com educadores que vivenciaram a experiência e nesse processo nos foi informado sobre a dificuldade de acesso aa documentação.
Para exemplificar, eis uma das questões que tentamos responder: sabendo-se que todas as atividades dos alunos do G.V. tinham na área de Estudos Sociais a sua linha-mestra, como era planejado e executado o curriculum de Ciências? Existia um programa mínimo, independente dos estudos feitos sobre os problemas levantados nas varias atividades que os alunos realizava? Na tentativa de respondê-las concluímos que as questões eram incorretas do ponto de vista conceitual. A nossa concepção do curriculum, o conjunto de matérias que devem ser ministradas por uma escola durante o ano letivo, não passava de uma distorção do significado amplo da palavra, como veremos adiante.

Nesse momento, nossa proposta teve que ser novamente reformulada, e passamos então, a atentar compreender o conteúdo da proposta filosófico –pedagógica a do Serviço de Ensino Vocacional – (SEV), agora com alguma bibliografia.

O E N S I N O V O C A C I O N A L

Para compreendermos o ensino vocacional, e em particular as considerações que aqui faremos sobre esta experiência no setor educacional, é necessário termos primeiramente alguma idéia a respeito da proposição filosófico–pedagógica desse método de ensino.
“A proposição filosófico –pedagógica do SEV procura responder às necessidades de uma determinada realidade considerando o homem como vivendo em um determinado contexto social, condicionado pela cultura e situando-se dentro do desse contexto com possibilidades de criticá-lo e transcender seus próprios condicionamentos.

Nossa posição de educação parte ,pois do homem concreto, situado num determinado contexto e é uma busca de uma forma original de educação, que situe o homem brasileiro no processo histórico de desenvolvimento”.(?)

É dentro dessa visão que todo o método usado no SEV e desenvolvido, tendo em vista os seguintes “objetivos educacionais”: mostrar ao aluno que cada homem pode ser um cientista e mostrar que tudo aquilo que aparece realizado pelo homem, num primeiro momento foi descoberta cientifica( a Aplicação da Ciência leva à tecnologia )
Surgem daí conseqüências determinantes para todo o planejamento e concretização deste método. A primeira delas é sobre o processo de seleção de uma unidade de ensino vocacional (ginásios vocacional) numa dada comunidade. Trataremos deste ponto agora.

O Processo de Seleção de uma unidade de ensino vocacional numa dada Comunidade.

Após alguns anos da experiência ter sido iniciada verificou-se a necessidade de se fazer um estudo sócio–econômico da comunidade onde o ginásio vocacional estava localizado, para, a partir deste estudo, determinar um método de seleção de candidatos, já que os métodos utilizando-se unicamente provas de escolaridade, favoreciam os candidatos provenientes das classes mais privilegiadas.

O objetivo principal desse estudo era, delimitada uma certa área ( Brooklin, por exemplo), estudar todas as principais características sócio – econômico dessa comunidade e, traçada uma curva sócio– econômico, tentar uma aproximação, o mais preciso possível entre essa curva e a dos alunos matriculados no ginásio vocacional.

Para se obter essa seleção eram usados os seguintes instrumentos:

1. Formulário (curso diurno) para coleta de dados de identificação, dados sobre o nível sócio– econômico da família e a escolaridade do aluno.

2. Entrevista ( curso noturno ) para:
2.a. - Caracterização do candidato quanto ao nível sócio–econômico, à faixa etária, ao local de residência e a situação do emprego, itens aos quais foram atribuídos pontos que, somados aos obtidos nas provas de escolaridades, serviram para a classificação final do candidato; a inclusão desse critério já foi pensada em termo de atenuar possíveis diferenças de escolaridades entre candidatos de níveis sócio– econômico diversos.
2.b. Caracterização do candidato quanto a aspectos mais pessoais ( Saúde, relacionamento com familiares e com grupos de idade, lazer, etc) para fins de orientação educacional e planejamento curricular.

3. Provas de escolaridade de Português, Matemática e Estudos Sociais, elaboradas em níveis diferentes (quantitativa e qualitativas) para os candidatos aos cursos diurnos e noturnos, com a finalidade de avaliar, o mais objetivamente possível, aprendizagem de conceitos e de conteúdos ao nível de

4º. ano primário. Essas provas de escolaridade forneceram subsídios necessários
mas não exclusivos para a classificação final do candidato.”(2)
A tabela abaixo mostra os resultados obtidos nos processos de seleção tradicional e o novo processo propostos.

Nível Sócio Econômico
Seleção Processo
Tradicional
Processo Reestruturado
Comunidade Escolar
I
45,0 %
18,4 %
13,9 %

II
48,3 %
56,6 %
51,6 %

III
6,7 %
25,0 %
34,5 %

Um outro ponto fundamental decorrente da posição filosófico-pedagógica – do SEV é a integração da escola com a comunidade à qual pertence. Nesse sentido, quando alguma unidade era implantada em uma cidade, - era feita uma analise da comunidade em questão, utilizando dados estatísticos de diversas fontes(IBGE, Prefeitura, Sindicato, etc) tentando-se caracterizar então esta comunidade para que se pudesse elaborar uma pesquisa, que seria feita entre as famílias de alunos dos quartos e quintos anos primários.

Esta pesquisa, que não é exatamente um estudo da comunidade, “visava dar ao conjunto de educadores uma visão global da realidade na qual o processo educacional iria se desenvolver”.(1) Este estudo ia sendo complementado por estudo mais aprofundados, feitos com a clientela escolar dos primeiros anos do cursos do primeiros ciclo dos ginásios que estavam sendo instalados.
Após dois anos da instalação do ginásio, era iniciada uma pesquisa entre as famílias dos alunos da escola, que eram denominadas “receptividade de curriculum. Esta pesquisa dava então condições para se avaliar até que ponto as famílias se sentiam participantes do processo da educação, qual a imagem que a escola estava dando à comunidade.

Os dados coletados davam condições para se fazer uma avaliação do Curriculum posto em execução, e se necessário, condições para se determinar uma revisão do mesmo,“dando ao planejamento do Curriculum uma dinâmica própria intimamente relacionada com as possibilidades da comunidade e das possibilidades de seu desenvolvimento”.

Entende-se como Currículum o conjunto de experiências, de atividades, de pesquisas propostas pela escola, visando o atendimento dos objetivos e incluindo-se meios de sua avaliação.
Se voltarmos à proposição filosófico –pedagógica vemos aqui que o Currículum tem que ser algo dinâmico que possibilite ao educando vivencias um processo da educação que se renove a cada momento atendendo a todas as necessidades decorrentes de uma realidade cultural na qual o educando esta se inserindo.

Para que esse Currículum correspondesse às necessidades de uma determinada dada comunidade,este era definido levando-se em conta as características Psico – Pedagógicas e Sociais (através dos métodos expostos anteriormente) alem de uma avaliação do resíduo de aprendizagem no caso dos alunos ingressantes nas primeiras seres do ginásio vocacional.

As características Psico – Pedagógicas compreendem a maneira como os educando da comunidade em questão Percebem, Aprendem, Compreendem, Discriminam, Generalizam e Abstraem. E, para a caracterização social da clientela são levados em conta seus Valores, Padrões, Expectativas, Aspirações, Estilo de Vida, Imagem de Sociedade, Imagem de Educação, Relacionamento Professor-Aluno, Família e Participação.

“Dada, porem, a dinâmica do próprio Currículum não se pode admitir a previsão de problemas a longo prazo. Isto o tornaria estático e criaria sérios impedimentos para que a realidade cultural, sempre renovada, se inserisse como conteúdo do processo educativo. O que importa, pois, estabelecer, são as linhas mestras através das quais os problemas serão colocados, elas devem revelar uma grande identidade com os objetivos. Desta análise, surgiu nossa definição de “Core-Currículum”.” (3)

O “Core-Currículum” era determinado em cada unidade de ensino vocacional, atendendo às necessidades da comunidade na qual estava inserido. Não era uma elaboração estática pois deveria estar pronto a levar em consideração os novos dados da realidade em constante movimento.
O “Core-Currículum” é, pois, uma idéia ou um grande conceito que sintetiza a linha essencial dos objetivos na apreensão desta cultura, que dinamiza todos os recursos do processo educativo e que significa a seqüência de problemas, dando-lhes a desejada unidade.”

“A filosofia traduzida pelo “Core-Currículum” deverá estar presente em todos os momentos da ação educativa. É preciso, também, que ela vá se tornando cada vez mais consciente para os educandos. Desde as primeiras experiências, é necessário colocar o educando com condições de se situar. A consciência de participar de um processo com objetivos definidos e reconhecíveis, leva o jovem a um estágio superior de consciência. Ele não é manipulado pela educação, passa a elaborar o processo.” (4)

Surge agora uma questão: como é planejado todo o trabalho educacional – para que este dê ao educando condições de realmente participar do processo e chegar a atingir os objetivos e propostas estabelecidas no Currículum e “Core Currículum”?
Para esclarecer a questão citaremos um trecho do trabalho apresentado na XX Reunião Anual da SBPC.

“O Currículum organizado integradamente, em função de uma idéia diretriz do processo educativo, o “Core Currículum”, é desenvolvido no Ginásio Vocacional através das Unidades Pedagógicas que consistem em questões e problemas em torno dos quais se organiza toda a experiência educacional do aluno, num determinado período de tempo. Para que se possa atingir o grande conceito definido pelo “Core Currículum” os problemas propostos para serem submetidos à análise dos alunos devem ser de real interesse, de grande atualidade e devem ter entre si, uma íntima relação, de modo que cada um deles seja, de certa forma, suscitado pelo anterior e se abra numa verdadeira linha evolutiva da estimulação do pensamento e da aprendizagem, contendo já cada uma delas, a idéia do “Core Currículum” e sendo a ultima a síntese das anteriores”

A problemática apresentada para os alunos era determinada por todo o corpo docente orientado pelos professores de Estudos Sociais e cada professor colocava as questões através da sua disciplina, sendo pois, que Estudos Sociais ocupava a posição de área núcleo.
A unidade pedagógica inclui então todas as atividades do aluno no processo educativo algumas delas são os estudo de grupo, estudo do meio, seminários, projetos, sessões de atualidades, etc.
Para que o processo fosse desencadeado o professor colocava uma questão, um problema, para a classe que o discutia e tirava dele um serie de questões e propostas que posteriormente iriam constituir a “Plataforma de Trabalho do bimestre para uma determinada classe.

Num primeiro momento os alunos faziam um arrolamento de questões e propostas. Estas eram então discutidas e trabalhadas pelo grupo e professores de todas as disciplinas que, junto com os orientadores, direcionam todo o trabalho dos alunos no sentido de se entender aos objetivos e tarefas colocado no Currículum e “Core Currículum”.
Definida a plataforma, por parte dos alunos, cabia ao grupo de professores então planejar todas as atividades que o aluno necessitaria para cumprir o que planejou dentro do estabelecido. È o momento então de planejar a Unidade Pedagógica considerando objetivos a atingir, conceitos a serem elaborados; seleção dos conteúdos das diferentes áreas; técnicas de trabalho; instituições didática- pedagógicas que possibilitam as mais diferentes vivencias; formas de avaliação em processo de execução.

No Final de cada Unidade Pedagógica era feita uma síntese do trabalho da classe, que podia se apresentado de diversas formas: assembléias (com elementos de várias classes); sínteses gráficas, sob a supervisão da especialista em Recursos Áudio- Visuais ou ambas.
Mostramos agora um exemplo que tenta aclarar parte do processo desencadeado numa Unidade Pedagógica.

Relatório de Orientação Pedagógica

“Tomando por base uma projeção de slides, feita pelo professor de Ciências, na qual foram focalizados não aspectos do Ginásio Vocacional sobre vários ângulos, mas também aspectos da cidade de Americana, incluindo-se outras escolas, os alunos passaram a discutir sobre aquilo que haviam observado na escola onde estudam, com o prédios ainda por terminar e com equipamento improvisado, ao lado das demais, já praticamente concluídas; os alunos de sua escola, em numero de 81 alunos apenas, contrastando com as demais. Outras duas escolas semelhantes à sua - no Estado, apenas...

A partir destas constatações, passaram s solicitar aos professores informações sobre fatos que perceberam desconhecer e para os quais desejavam respostas - quais as diferenças entre o Ginásio Vocacional e as demais escolas? Porque apenas mais dois Ginásios Vocacionais no Estado de São Paulo? Nossa escola poderá desenvolver suas atividades da mesma maneira que as demais?

Algumas dessas questões foram esclarecidas pelos professores e outras não. Travou-se um dialogo e as perguntas forma grupadas pelos próprios alunos em categorias. Os professores estimularam uma síntese de tudo que foram discutindo. Conclui-se que as questões propostas faziam parte de um conjunto mais amplo. O que é o Ginásio Vocacional? Como contribui para equipá-lo? É apenas um exemplo para a primeira Unidade Pedagógica da primeira serie; vários outros poderiam ser dados numa linha evolutiva de 1ª a 4ª serie.

Conclusão

O estudo do material que conseguimos ate agora, nos leva a acreditar – que um trabalho especifico sobre o ensino de Ciências no Ginásio Vocacional seria artificial, na medida em que, como tentamos expor, o método já utilizado integrava efetivamente todas as áreas. No entanto, uma analise dessa integração, - do ponto de vista do ensino de Ciências, é um trabalho valido e possível de ser realizado, desde que se leve em conta a experiência como um todo.


Referencias

(1) Do artigo da revista Ciência e Cultura, vol. 22, no 2, 1970; A Pesquisa da Comunidade como um dos elementos de Planejamento de Currículo no SEV.
(2) Mesma revista, artigos 1 realidades sócio- econômica como fundamentação do processo de seleção nos Ginásios Vocacionais do Estado de São Paulo.
(3) Do artigo da revista Ciência e Cultura, vol 20, no. 2, 1968 – “Simpósio sobre Ensino Vocacional”
(4) Idem.



Trabalho realizado por:
Cláudio Justino La Macchia
Eduardo Adolfo Terrazzan
Jose Domingos T. Vasconcelos
Luis Gabriel de Fiori
Vinicius Ítalo Signorelli (João Singorelli 1968)


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Fonte Cedic Puc - GT Memória GVive 2006

Digitalização do original:Imma/Luigy 2007

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