segunda-feira, 30 de junho de 2008

O Código dos alunos feitos por eles mesmos

NOSSO CÓDIGO
Códigos dos alunos do GEVOA Ginasio Vocacional Oswaldo Aranha

INTRODUÇÃO
No ano de 1962, o Ginásio Vocacional começou a funcionar.
A atitude dos alunos não era satisfatória para o bom andamento dos trabalhos da Escola porque prejudicava um aproveitamento adequado.
Seria necessário que se pensasse em algo que auxiliasse a socialização dos alunos.
Foi então que surgiu a idéia de um código.
Um verdadeiro trabalho de base foi realizado para a elaboração daquele: foi feita uma elaboração individual, posteriormente discutida em equipe e, depois discutida e aprovada em classe.
Depois de todas as classes terem apresentado suas conclusões, os representantes da classe fundiram num só código.
O efeito foi animador.
Porém com a entrada de 120 alunos novos no Ginásio(1963), foi necessária uma reformulação do mesmo código, pois as vivências desses alunos eram diferentes dos das 2ª séries.(turma de 1962)
Houve a reformulação ao mesmo tempo que as 1ª séries elaboravam suas leis.
Os representantes de classe das 2ª séries fundiram os dois códigos num só em função do bem comum.

ENTRADA E SAÍDA: APRESENTAÇÃO DO ALUNO

DEVEMOS:

1- Ser pontuais;
2- Evitar aglomeração nos portões da escola.
3- Sair da escola, no término das aulas, pelo portão que estiver aberto.
4- Conservar, perfeitamente limpas, as entradas da escola, evitando correr, brigar, empurrar, etc.
5- Respeitar e atender as solicitações do guarda de trânsito.
6- Respeitar as pessoas que estão no ponto de ônibus, cobradores, colegas, etc.


NÃO DEVEMOS:

1- Tomar as seguintes atitudes no ponto de ônibus: desordem, algazarras, etc.
2- Fazer brincadeiras de mau gosto.
3- Cometer imprudências.
4- Perturbar a ordem dentro do ônibus.
5- Ficar nos arredores da escola depois do término das aulas.
SALA DE AULA: AMBIENTE DE TRABALHO

DEVEMOS:
1- Observar a pontualidade no início de cada aula.
2- Entrar na sala de aula como pessoas civilizadas, evitando correrias, empurrões, gritaria, aglomerações, etc.
3- Manter, durante toda aula, atitudes de seriedade, colaboração, interesse e participação.
4- Acomodar-nos para esperar o início dos trabalhos.
5- Colaborar na organização da equipe, no desenrolar dos trabalhos, evitando a nossa distração e a dos colegas.
6- Levantar a mão para obter a palavra.
7- Tratar exclusivamente de assuntos que interessam diretamente à área em que estamos tendo aula.
8- Respeitar os trabalhos e as idéias alheias.
9- Consultar livros, professores, estudar em conjunto e em voz baixa, não falando junto com colegas e professores.
10- Respeitar o nosso material, o dos colegas e o da escola, procurando conservar os móveis e objetos.
11- Levar para a aula o material que interessa à mesma.
12- Esperar que o professor dê por terminada a aula para sairmos.
13- Manter a classe limpa e em ordem.
14- Obedecer às determinações das oficinas.
15- No trabalho individual ou nos de avaliação, não devemos contar com o auxílio dos colegas.
16- Só podemos nos ausentar da aula com permissão do professor.

SALA DE ATIVIDADE RELIGIOSA
1- Entrar na sala em silêncio e com respeito.
2- Todas as atividades religiosas desenvolvidas devem ser feitas com a maior seriedade e com muito respeito.
3- Zelar pela decoração da sala.
4- Conservar modos e postura adequados ao ambiente.

CASA MODÊLO
1- Conservar, na sala, um ambiente familiar.
2- Observar tudo quanto foi estabelecido a respeito da sala de aula.

SALA DE ESTUDOS
1- Levar o material necessário ao estudo, para não interromper as aulas, perturbando os colegas e professores. Há tolerância de dez minutos.
2- Aproveitar o tempo para estudo sem nos ocuparmos com leitura de revistas ou outras atividades que não estejam ligadas ao mesmo.

CORREDORES E ESCADAS LUGAR DE TRÂNSITO
DEVEMOS
1. Andar normalmente no corredor à direita, evitando aglomerações e conversas inúteis.
2. Passar nas portas de sala de aula sem chamar a atenção dos alunos.
3. Tomar cuidado os ladrilhos soltos.
4. Andar sem empurrar, sem abraçar os colegas e não passar o pé....
5. Conservar os corredores e escadas perfeitamente limpos, (sem) coisas no chão. Procurar não passar a mão nas paredes.
6. Subir a escada degrau em degrau conservando-se à direita.
7. Não devemos descer pelo corrimão e jogar objetos pelo mesmo.
8. Devemos comer o lanche no pátio e na hora adequada.

INTERVALOS
1. Devemos usar o intervalo para:
a. Mudar de classe.
b. Ir aos reservados e beber água.

BEBEDOURO
1.Devemos beber água rapidamente, evitando brincadeiras para darmos oportunidade aos outros colegas.
2.Devemos usar os bebedouros exclusivamente para seus devidos fins.

REFEITÓRIO: AMBIENTE DE CALMA E ALEGRIA PARA UMA BOA REFEIÇÃO

DEVEMOS
1.Organizar em fila, seguindo a ordem numérica das equipes, para pegarmos os pratos na entrada do refeitório.
2. Tomar, nessa fila, atitudes que evitem brincadeiras de mau gosto, interrupções na mesma, aglomerações desnecessárias. Não devemos guardar lugar na fila.
3. Devemos pegar a bandeja no lugar adequado, não escolhê-las, zelar pela sua conservação.
4. Colocar na bandeja os talheres necessários, o prato de comida, o pão e a sobremesa que nos cabe.
5. Andar normalmente para evitar acidentes com a bandeja, móveis e utensílios.
6. Devemos sentar, de preferência , meninos com meninas, observando bons modos, postura e conversação agradáveis e adequadas.
7. Agradecer à Deus o alimento que nos dá.
8. Esperar que todos da mesa terminem a refeição para nos retirarmos.Evitar, por isso de sentarmos à mesa onde a refeição já está adiantada.
9. Terminada a refeição, deixar o refeitório em perfeita ordem, observando limpeza das mesas, cadeiras ou bandejas e chão.
10. Colocar utensílios usados (pratos, talheres e copos) nos lugares adequados.
11. Conversar no refeitório ou na fila em tom de voz moderado, evitar barulhos irritantes com talheres, pratos, móveis.

PÁTIO E RECREAÇÃO: AMBIENTE DE DESCANSO

1. Devemos: Conservar o pátio sempre limpo, jogando papéis usados no recipiente adequado.
2. Não podemos andar no galpão, só em volta da quadra.
3. Recrear juntos: meninos e meninas.
4. Requisitar o material de recreação e entregar à equipe encarregada.
5. Evitar que as atividades de recreação não exijam esforço físico violento, pois devemos estar em condições de assistir às outras aulas.
6. Respeitar as brincadeiras dos grupos de alunos, pedindo licença para participar da mesma.
7. Evitar de subir nos arcos do galpão, a não ser em atividades de Educação Física, com a presença do professor.
8. Ter espírito esportivo.
9. Obedecer imediatamente o sinal de término da recreação.

EM RELAÇÃO AOS COLEGAS

DEVEMOS
1. Respeitá-los para obtermos respeito.
2. Procurar ajudá-los na hora de dificuldades.
3. Ter espírito de coleguismo: lealdade, seriedade, delicadeza e amizade.

NÃO DEVEMOS
1. Ofendê-los com casos pessoais.
2. Fazer brincadeiras de mau gosto.

ONDE QUER QUE ESTEJAMOS, DEVEMOS:
1. Conservar a higiene própria.
2. Falar com voz moderada.
3. Andar normalmente.
4. Observar boa postura e boas maneiras.

DISPOSIÇÕES GERAIS – CONTRIBUIÇÃO DA 2ª SÉRIE
1. Respeitar o regulamento interno, estabelecido em algumas áreas. Por exemplo Educação Física, Artes Industriais.
2. Sugerir aos colegas que não estejam observando as determinações do código, que obedeçam às leis por nós formuladas, para o bom andamento dos trabalhos na Escola.
3. Fica estabelecido que a 1ª Série eleja representantes de classe para as atividades que se organizem na escola.
4. Fica estabelecido, também, que a 2ª Série tem o direito de eleger representantes de classe, por um semestre, para governar a escola, no que diz respeito aos alunos, junto à direção e corpo docente.
5. Os alunos de 1ª e 2ª Séries podem organizar –se em grupos de responsabilidade, para auxiliar na administração da escola, junto aos professores. Por exemplo: equipes de refeitório, de recreação.
6. Este código pode ser ampliado e completado, desde que haja necessidade da formulação de novas leis de interesse geral, aprovadas por todos os alunos.

VESTIÁRIO: LUGAR PARA TROCAR A ROUPA
1. Devemos usar o vestiário a fim de nos aprontarmos para a aula de Educação Física.
2. Trocar de roupa rapidamente, sem gritar, sem brincadeiras e conversas impróprias.
3. Observar a higiene e ordem dos vestiários, usando os cabides para seus devidos fins.
4. Evitar a indiscrição e nos vestirmos em frente a porta.
5. Sujar ou estragar roupas de outros colegas.
6. Fazer guerra de “shorts”, tênis, etc.
7. Evitar de deixar materiais estranhos no vestiário.

ATITUDES GERAIS EM RELAÇÃO AOS PROFESSÔRES, ORIENTADORES E FUNCIONÁRIOS:
DEVEMOS
1. Ouvi-los.
2. Tratá-los com a maior delicadeza.
3. Seguir a sua orientação.
4. Obedece-los.

EM RELAÇÃO AOS VISITANTES
DEVEMOS
1. Ser corteses e atenciosos.
2. Responder às perguntas que nos façam ou explicações que nos peçam sem interromper nosso trabalho, quando não houver solicitação para isso.


(Transcrito e encaminhado por Ana Maria Costa Pereira de Rezende( Poliana )
em 24 de outubro de 2004)
fonte-http://www.pralmeida.org/00PRAfiles/03GinVocOswAranha/00GinVocacional.html

Considerações sobre experiência dos G.Vs.

Considerações sobre experiência dos Ginásios Vocacionais do Estado de S.Paulo

S.E.V.

Texto desenvolvido por de pais de alunos

Textos Vocacionais


Histórico

A Idéia do nosso trabalho sobre a experiência educacional no Ginásio Vocacional surgiu na 1ª. palestra do curso de Instrumentação para o Ensino de Física, quando nas discussões foi abordado o problema do ensino profissionalizante. Notamos que a experiência do Ginásio Vocacional talvez se constituísse numa alternativa humanística para este tipo de ensino, embora não tivéssemos certeza desse fato. Pensamos então em pesquisar e analisar o que foi esta experiência e dependendo dos resultados continuaríamos o projeto com objetivo de sugerir uma linda de trabalho que seria uma contraposição às propostas de ensino existentes hoje, no Brasil.

Inicialmente enfocaríamos a experiência no ensino das ciências. Depois verificamos que no tocante à Física a experiência foi menos intensa, não tendo sido concluída ,pois o colégio passou a integrar a rede de estabelecimento de ensino oficial, mudando sua orientação filosófico–pedagógica (os motivos que levaram a esta mudança não será tratados em nosso trabalho. Sendo assim restringimos nosso trabalho ao levantamento de informações, analise e divulgação da experiência do Ginásio Vocacional na área de Ciências.

Para obtenção de dados realizamos contatos com educadores que vivenciaram a experiência e nesse processo nos foi informado sobre a dificuldade de acesso aa documentação.
Para exemplificar, eis uma das questões que tentamos responder: sabendo-se que todas as atividades dos alunos do G.V. tinham na área de Estudos Sociais a sua linha-mestra, como era planejado e executado o curriculum de Ciências? Existia um programa mínimo, independente dos estudos feitos sobre os problemas levantados nas varias atividades que os alunos realizava? Na tentativa de respondê-las concluímos que as questões eram incorretas do ponto de vista conceitual. A nossa concepção do curriculum, o conjunto de matérias que devem ser ministradas por uma escola durante o ano letivo, não passava de uma distorção do significado amplo da palavra, como veremos adiante.

Nesse momento, nossa proposta teve que ser novamente reformulada, e passamos então, a atentar compreender o conteúdo da proposta filosófico –pedagógica a do Serviço de Ensino Vocacional – (SEV), agora com alguma bibliografia.

O E N S I N O V O C A C I O N A L

Para compreendermos o ensino vocacional, e em particular as considerações que aqui faremos sobre esta experiência no setor educacional, é necessário termos primeiramente alguma idéia a respeito da proposição filosófico–pedagógica desse método de ensino.
“A proposição filosófico –pedagógica do SEV procura responder às necessidades de uma determinada realidade considerando o homem como vivendo em um determinado contexto social, condicionado pela cultura e situando-se dentro do desse contexto com possibilidades de criticá-lo e transcender seus próprios condicionamentos.

Nossa posição de educação parte ,pois do homem concreto, situado num determinado contexto e é uma busca de uma forma original de educação, que situe o homem brasileiro no processo histórico de desenvolvimento”.(?)

É dentro dessa visão que todo o método usado no SEV e desenvolvido, tendo em vista os seguintes “objetivos educacionais”: mostrar ao aluno que cada homem pode ser um cientista e mostrar que tudo aquilo que aparece realizado pelo homem, num primeiro momento foi descoberta cientifica( a Aplicação da Ciência leva à tecnologia )
Surgem daí conseqüências determinantes para todo o planejamento e concretização deste método. A primeira delas é sobre o processo de seleção de uma unidade de ensino vocacional (ginásios vocacional) numa dada comunidade. Trataremos deste ponto agora.

O Processo de Seleção de uma unidade de ensino vocacional numa dada Comunidade.

Após alguns anos da experiência ter sido iniciada verificou-se a necessidade de se fazer um estudo sócio–econômico da comunidade onde o ginásio vocacional estava localizado, para, a partir deste estudo, determinar um método de seleção de candidatos, já que os métodos utilizando-se unicamente provas de escolaridade, favoreciam os candidatos provenientes das classes mais privilegiadas.

O objetivo principal desse estudo era, delimitada uma certa área ( Brooklin, por exemplo), estudar todas as principais características sócio – econômico dessa comunidade e, traçada uma curva sócio– econômico, tentar uma aproximação, o mais preciso possível entre essa curva e a dos alunos matriculados no ginásio vocacional.

Para se obter essa seleção eram usados os seguintes instrumentos:

1. Formulário (curso diurno) para coleta de dados de identificação, dados sobre o nível sócio– econômico da família e a escolaridade do aluno.

2. Entrevista ( curso noturno ) para:
2.a. - Caracterização do candidato quanto ao nível sócio–econômico, à faixa etária, ao local de residência e a situação do emprego, itens aos quais foram atribuídos pontos que, somados aos obtidos nas provas de escolaridades, serviram para a classificação final do candidato; a inclusão desse critério já foi pensada em termo de atenuar possíveis diferenças de escolaridades entre candidatos de níveis sócio– econômico diversos.
2.b. Caracterização do candidato quanto a aspectos mais pessoais ( Saúde, relacionamento com familiares e com grupos de idade, lazer, etc) para fins de orientação educacional e planejamento curricular.

3. Provas de escolaridade de Português, Matemática e Estudos Sociais, elaboradas em níveis diferentes (quantitativa e qualitativas) para os candidatos aos cursos diurnos e noturnos, com a finalidade de avaliar, o mais objetivamente possível, aprendizagem de conceitos e de conteúdos ao nível de

4º. ano primário. Essas provas de escolaridade forneceram subsídios necessários
mas não exclusivos para a classificação final do candidato.”(2)
A tabela abaixo mostra os resultados obtidos nos processos de seleção tradicional e o novo processo propostos.

Nível Sócio Econômico
Seleção Processo
Tradicional
Processo Reestruturado
Comunidade Escolar
I
45,0 %
18,4 %
13,9 %

II
48,3 %
56,6 %
51,6 %

III
6,7 %
25,0 %
34,5 %

Um outro ponto fundamental decorrente da posição filosófico-pedagógica – do SEV é a integração da escola com a comunidade à qual pertence. Nesse sentido, quando alguma unidade era implantada em uma cidade, - era feita uma analise da comunidade em questão, utilizando dados estatísticos de diversas fontes(IBGE, Prefeitura, Sindicato, etc) tentando-se caracterizar então esta comunidade para que se pudesse elaborar uma pesquisa, que seria feita entre as famílias de alunos dos quartos e quintos anos primários.

Esta pesquisa, que não é exatamente um estudo da comunidade, “visava dar ao conjunto de educadores uma visão global da realidade na qual o processo educacional iria se desenvolver”.(1) Este estudo ia sendo complementado por estudo mais aprofundados, feitos com a clientela escolar dos primeiros anos do cursos do primeiros ciclo dos ginásios que estavam sendo instalados.
Após dois anos da instalação do ginásio, era iniciada uma pesquisa entre as famílias dos alunos da escola, que eram denominadas “receptividade de curriculum. Esta pesquisa dava então condições para se avaliar até que ponto as famílias se sentiam participantes do processo da educação, qual a imagem que a escola estava dando à comunidade.

Os dados coletados davam condições para se fazer uma avaliação do Curriculum posto em execução, e se necessário, condições para se determinar uma revisão do mesmo,“dando ao planejamento do Curriculum uma dinâmica própria intimamente relacionada com as possibilidades da comunidade e das possibilidades de seu desenvolvimento”.

Entende-se como Currículum o conjunto de experiências, de atividades, de pesquisas propostas pela escola, visando o atendimento dos objetivos e incluindo-se meios de sua avaliação.
Se voltarmos à proposição filosófico –pedagógica vemos aqui que o Currículum tem que ser algo dinâmico que possibilite ao educando vivencias um processo da educação que se renove a cada momento atendendo a todas as necessidades decorrentes de uma realidade cultural na qual o educando esta se inserindo.

Para que esse Currículum correspondesse às necessidades de uma determinada dada comunidade,este era definido levando-se em conta as características Psico – Pedagógicas e Sociais (através dos métodos expostos anteriormente) alem de uma avaliação do resíduo de aprendizagem no caso dos alunos ingressantes nas primeiras seres do ginásio vocacional.

As características Psico – Pedagógicas compreendem a maneira como os educando da comunidade em questão Percebem, Aprendem, Compreendem, Discriminam, Generalizam e Abstraem. E, para a caracterização social da clientela são levados em conta seus Valores, Padrões, Expectativas, Aspirações, Estilo de Vida, Imagem de Sociedade, Imagem de Educação, Relacionamento Professor-Aluno, Família e Participação.

“Dada, porem, a dinâmica do próprio Currículum não se pode admitir a previsão de problemas a longo prazo. Isto o tornaria estático e criaria sérios impedimentos para que a realidade cultural, sempre renovada, se inserisse como conteúdo do processo educativo. O que importa, pois, estabelecer, são as linhas mestras através das quais os problemas serão colocados, elas devem revelar uma grande identidade com os objetivos. Desta análise, surgiu nossa definição de “Core-Currículum”.” (3)

O “Core-Currículum” era determinado em cada unidade de ensino vocacional, atendendo às necessidades da comunidade na qual estava inserido. Não era uma elaboração estática pois deveria estar pronto a levar em consideração os novos dados da realidade em constante movimento.
O “Core-Currículum” é, pois, uma idéia ou um grande conceito que sintetiza a linha essencial dos objetivos na apreensão desta cultura, que dinamiza todos os recursos do processo educativo e que significa a seqüência de problemas, dando-lhes a desejada unidade.”

“A filosofia traduzida pelo “Core-Currículum” deverá estar presente em todos os momentos da ação educativa. É preciso, também, que ela vá se tornando cada vez mais consciente para os educandos. Desde as primeiras experiências, é necessário colocar o educando com condições de se situar. A consciência de participar de um processo com objetivos definidos e reconhecíveis, leva o jovem a um estágio superior de consciência. Ele não é manipulado pela educação, passa a elaborar o processo.” (4)

Surge agora uma questão: como é planejado todo o trabalho educacional – para que este dê ao educando condições de realmente participar do processo e chegar a atingir os objetivos e propostas estabelecidas no Currículum e “Core Currículum”?
Para esclarecer a questão citaremos um trecho do trabalho apresentado na XX Reunião Anual da SBPC.

“O Currículum organizado integradamente, em função de uma idéia diretriz do processo educativo, o “Core Currículum”, é desenvolvido no Ginásio Vocacional através das Unidades Pedagógicas que consistem em questões e problemas em torno dos quais se organiza toda a experiência educacional do aluno, num determinado período de tempo. Para que se possa atingir o grande conceito definido pelo “Core Currículum” os problemas propostos para serem submetidos à análise dos alunos devem ser de real interesse, de grande atualidade e devem ter entre si, uma íntima relação, de modo que cada um deles seja, de certa forma, suscitado pelo anterior e se abra numa verdadeira linha evolutiva da estimulação do pensamento e da aprendizagem, contendo já cada uma delas, a idéia do “Core Currículum” e sendo a ultima a síntese das anteriores”

A problemática apresentada para os alunos era determinada por todo o corpo docente orientado pelos professores de Estudos Sociais e cada professor colocava as questões através da sua disciplina, sendo pois, que Estudos Sociais ocupava a posição de área núcleo.
A unidade pedagógica inclui então todas as atividades do aluno no processo educativo algumas delas são os estudo de grupo, estudo do meio, seminários, projetos, sessões de atualidades, etc.
Para que o processo fosse desencadeado o professor colocava uma questão, um problema, para a classe que o discutia e tirava dele um serie de questões e propostas que posteriormente iriam constituir a “Plataforma de Trabalho do bimestre para uma determinada classe.

Num primeiro momento os alunos faziam um arrolamento de questões e propostas. Estas eram então discutidas e trabalhadas pelo grupo e professores de todas as disciplinas que, junto com os orientadores, direcionam todo o trabalho dos alunos no sentido de se entender aos objetivos e tarefas colocado no Currículum e “Core Currículum”.
Definida a plataforma, por parte dos alunos, cabia ao grupo de professores então planejar todas as atividades que o aluno necessitaria para cumprir o que planejou dentro do estabelecido. È o momento então de planejar a Unidade Pedagógica considerando objetivos a atingir, conceitos a serem elaborados; seleção dos conteúdos das diferentes áreas; técnicas de trabalho; instituições didática- pedagógicas que possibilitam as mais diferentes vivencias; formas de avaliação em processo de execução.

No Final de cada Unidade Pedagógica era feita uma síntese do trabalho da classe, que podia se apresentado de diversas formas: assembléias (com elementos de várias classes); sínteses gráficas, sob a supervisão da especialista em Recursos Áudio- Visuais ou ambas.
Mostramos agora um exemplo que tenta aclarar parte do processo desencadeado numa Unidade Pedagógica.

Relatório de Orientação Pedagógica

“Tomando por base uma projeção de slides, feita pelo professor de Ciências, na qual foram focalizados não aspectos do Ginásio Vocacional sobre vários ângulos, mas também aspectos da cidade de Americana, incluindo-se outras escolas, os alunos passaram a discutir sobre aquilo que haviam observado na escola onde estudam, com o prédios ainda por terminar e com equipamento improvisado, ao lado das demais, já praticamente concluídas; os alunos de sua escola, em numero de 81 alunos apenas, contrastando com as demais. Outras duas escolas semelhantes à sua - no Estado, apenas...

A partir destas constatações, passaram s solicitar aos professores informações sobre fatos que perceberam desconhecer e para os quais desejavam respostas - quais as diferenças entre o Ginásio Vocacional e as demais escolas? Porque apenas mais dois Ginásios Vocacionais no Estado de São Paulo? Nossa escola poderá desenvolver suas atividades da mesma maneira que as demais?

Algumas dessas questões foram esclarecidas pelos professores e outras não. Travou-se um dialogo e as perguntas forma grupadas pelos próprios alunos em categorias. Os professores estimularam uma síntese de tudo que foram discutindo. Conclui-se que as questões propostas faziam parte de um conjunto mais amplo. O que é o Ginásio Vocacional? Como contribui para equipá-lo? É apenas um exemplo para a primeira Unidade Pedagógica da primeira serie; vários outros poderiam ser dados numa linha evolutiva de 1ª a 4ª serie.

Conclusão

O estudo do material que conseguimos ate agora, nos leva a acreditar – que um trabalho especifico sobre o ensino de Ciências no Ginásio Vocacional seria artificial, na medida em que, como tentamos expor, o método já utilizado integrava efetivamente todas as áreas. No entanto, uma analise dessa integração, - do ponto de vista do ensino de Ciências, é um trabalho valido e possível de ser realizado, desde que se leve em conta a experiência como um todo.


Referencias

(1) Do artigo da revista Ciência e Cultura, vol. 22, no 2, 1970; A Pesquisa da Comunidade como um dos elementos de Planejamento de Currículo no SEV.
(2) Mesma revista, artigos 1 realidades sócio- econômica como fundamentação do processo de seleção nos Ginásios Vocacionais do Estado de São Paulo.
(3) Do artigo da revista Ciência e Cultura, vol 20, no. 2, 1968 – “Simpósio sobre Ensino Vocacional”
(4) Idem.



Trabalho realizado por:
Cláudio Justino La Macchia
Eduardo Adolfo Terrazzan
Jose Domingos T. Vasconcelos
Luis Gabriel de Fiori
Vinicius Ítalo Signorelli (João Singorelli 1968)


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Fonte Cedic Puc - GT Memória GVive 2006

Digitalização do original:Imma/Luigy 2007

O velho vocacional ensina de novo a aprender - Sinapse Folha de S.Paulo

O velho vocacional ensina de novo a aprender - Sinapse Folha de S.Paulo
Conceitos (Retalhos da reportagem) 23/07/2002 - 02h57
AURELIANO BIANCARELLI GVRC da Folha de S.Paulo

Mais uma vítima do regime militar, o ensino vocacional -um dos mais ousados conceitos pedagógicos implantados no Brasil- está de novo nas salas de aula. Criados em 1962, os ginásios vocacionais deixaram de existir no início da fase mais violenta do regime, em dezembro de 1969, um ano após o AI-5, quando pensar por conta própria e questionar valores vigentes viraram sinônimo de subversão.

Agora, 40 anos depois, as idéias do Vocacional retornam em uma série de iniciativas de ex-alunos, ex-professores e pesquisadores que, inconformados com o fim prematuro da experiência, tratam de revivê-la. Há pelo menos uma dúzia de teses, já escritas ou em andamento, relatando essa "aventura pedagógica". Um grupo planeja ressuscitar o colégio em Paulínia (interior de São Paulo). E, em várias escolas particulares, é possível sentir traços da herança do Vocacional.

A história é típica do período em que o programa se desenvolveu. De um lado, o ideal libertário; de outro, a repressão. O curso, que deveria se estender por toda a rede pública de São Paulo, nunca passou de seis unidades espalhadas pelo Estado.

No final do ano letivo de 1969, os personagens foram obrigados a se dispersar. Professores foram presos nas salas, e os alunos, mandados para casa. Documentos tomados nessas ocupações nunca mais foram achados.

Destruída a memória, educadores se apegam hoje a depoimentos, lembranças e ao pouco que restou dos cursos para mapear os ensinamentos do Vocacional e resgatar seus valores.

É preciso, desde já, desfazer uma confusão sobre o Vocacional. Induzido ao erro pelo nome, muito leigo tende a achar que 'vocacional" tem a ver com "vocação", no sentido mais estrito do termo, que remete para a idéia prática de encaminhamento do aluno para uma opção profissional. Nada poderia ser mais distante do sentido dessa pedagogia.

Uma das ferramentas que distinguia o Vocacional era a integração das disciplinas em torno de um problema ou de uma plataforma central. Se hoje isso soa comum para quem está a par da pedagogia contemporânea, na época era revolucionário.

Eram escolhidos temas bimestrais: uma terceira série ginasial da unidade de Rio Claro estudou, por exemplo, se a "diversidade regional é compatível com o Brasil unido". O objetivo era discutir democracia, diferenças, reconhecer o esforço para manter a união, além de desenvolver a capacidade de observação analítica/crítica.

Foram desenvolvidos trabalhos sobre o ciclo do ouro em Minas Gerais, sobre o arcadismo, as obras de Portinari, o folclore presente na música brasileira, o banco nacional, e até na educação física foram estudadas as confederações e federações esportivas.

O conceito mais associado ao Vocacional talvez seja o de "aprender a aprender". O estudante conduzia suas pesquisas, valendo-se sobretudo das bibliotecas não se usavam livros didáticos. A pesquisa começava dirigida pelo professor, que mais tarde se limitava a supervisioná-la. Depois, o trabalho era livre.

A maior contribuição pedagógica do Vocacional, porém, é o método do estudo do meio em que vive o estudante. Num universo que se amplia em círculos concêntricos, os alunos começam estudando a própria comunidade. O país e o mundo vêm depois, permitindo a descoberta gradual da realidade.

O estudo do meio é o elo que mantém as disciplinas ligadas à realidade exterior e ao mundo acadêmico. "Os militares achavam subversivo, porque os alunos aprendiam a realidade como ela é, não aquela que eles mostravam como ideal", afirma Cecília Vasconcellos de Lacerda Guaraná, orientadora e diretora de três ginásios vocacionais.

Os estudos do meio não cabiam num gabarito único pela simples razão de que o meio varia a cada região, a cada bairro. Em Americana, os alunos do primeiro ano estudaram a industrialização rápida da cidade. Já os de Batatais concentraram-se nos problemas de um município agrícola. Quanto aos de São Paulo, no Brooklin, analisaram as múltiplas faces de um bairro de classe média metropolitano.

No segundo ano, o objeto de estudo foi o Estado. No terceiro, o país. Grupos de estudantes viajaram para o Rio, num percurso que incluía a pesquisa do Vale do Paraíba e a siderúrgica de Volta Redonda. Outros foram para as cidades históricas de Minas.

O cenário do quarto ano era o mundo, ou as fronteiras mais próximas dos vizinhos sul-americanos. De todos os colégios, só uma turma chegou a ir até a Bolívia. Os projetos de contato com outros países foram impedidos ou dificultados pelos militares.

Em sua tese, Silva recupera outro diferencial daquele sistema de ensino, a formação continuada do professor na própria escola. "O governo hoje tem gasto muito dinheiro no treinamento de professores, afastando-os da realidade em que vivem e daquela em que vão atuar", critica.

A primeira turma de professores do Vocacional fez estágio no colégio de Socorro, interior de São Paulo, uma das escolas experimentais de maior sucesso na época. "Quando fui obrigado a sair do Vocacional e fui para a USP do período militar, percebi que estava regredindo do século 21 para a Idade Média", conta Newton Cesar Balzan, que fez parte da turma pioneira em Socorro.

"Mesmo nos EUA, onde uma iniciativa monitorada pela Universidade Harvard manteve escolas experimentais em sete Estados, nada foi feito que se compare ao Vocacional", afirma Balzan, que hoje é professor na PUC-Campinas.

Balzan destaca outro diferencial desse projeto, que acabou causando atritos com autoridades e políticos: a "socialização das vagas". Em 1961, antes do início da primeira turma, pesquisas foram feitas em Americana, Batatais e na região do Brooklin, onde ficava a unidade de São Paulo. "Quando começamos as aulas, sabíamos quantas horas dormiam, o que comiam e o que liam as crianças dessas comunidades.

"A seleção, que incluía entrevista com os alunos e os pais, reproduzia na classe a mesma composição socioeconômica da comunidade. Se um terço dos moradores da cidade eram operários, um terço dos alunos seriam filhos de operários.

Com o sucesso do Vocacional, a unidade do Brooklin chegou a ter 2.000 candidatos para 120 vagas. No exame geral, os candidatos das classes A e B, que representavam 19% nos bairros do entorno, ocupariam mais de 30% da faixa de aprovados, mas a proporção do bairro foi mantida. "A socialização não agradou aos políticos e houve confusão", lembra Balzan.

Entre os ex-alunos, o fascínio pelo Vocacional também persiste. "Foi um processo mais importante para mim que o da universidade. Minha visão de mundo e da realidade social foi construída ali", diz a pró-reitora da PUC- Campinas Carmen Lavras, que fez parte da única turma que completou o colegial do Vocacional, em 1970.

"O Vocacional é sempre visto pelo seu compromisso com o social, o comunitário, mas foram as artes que me educaram para a sensibilidade. Pelas mãos dos professores, nós participamos do teatro de Arena, do Oficina, das bienais, do Masp, estivemos no Estadão, na Folha", lembra Carmen, que é médica sanitarista.

"A proposta era projetar a criança para o mundo", diz Áurea Sigrist de Toledo Piza, que foi orientadora pedagógica e diretora do Vocacional até 1969.

Áurea e o marido passaram os últimos seis anos reunindo fundos para a construção de um "novo vocacional". No próximo dia 31 de agosto, ela e três outros ex-professores do Vocacional inauguram o Instituto Lumen Verbi de Educação e Cultura, em Paulínia, na região de Campinas.

A escola funciona provisoriamente desde o início do ano formando o que ela chama de "base" para o Vocacional. "Os alunos que saem hoje das quatro primeiras séries, que correspondiam ao primário, têm um nível muito inferior ao dos alunos dos anos 60. Eles precisam de uma base", diz.

Para manter os estudantes em período integral, com um currículo que inclui línguas, música, dança e até capoeira, a escola está cobrando cerca de R$ 400, na média.. "A idéia é que pais que podem mais cubram a diferença dos que podem menos", diz Áurea.

Também um "órfão" do Vocacional, o ex-aluno Ary Meirelles Jacobucci escreveu uma "breve etnografia" do ginásio de Americana. O livro faz, no título, uma pergunta que ficou sem resposta para todos que viveram aquela experiência: "Revolucionou e acabou?". Se foi tão bom, por que foi tão esquecido? E seria possível acrescentar outra ainda: "O Vocacional faria sentido hoje em dia?"

A pedagoga Ângela Rabello Maciel de Barros Tamberlini, que escreveu uma tese sobre os Vocacionais, acha que um projeto desse tipo seria importantíssimo na rede pública. "Na atual conjuntura de violência extrema, pesquisas mostram que as escolas em que há interação com a comunidade são as mais preservadas. E os Vocacionais tinham esse objetivo.

"Ela afirma que o projeto tinha uma interação forte com a história da época e que "readaptações teriam de ser feitas". "Outra questão é a da desconstrução do público, do Estado, a exacerbação do individualismo. O ensino vocacional seria uma forma de resgatar esses valores", acredita.

Os defensores dos Vocacionais diziam que a ampliação deveria ocorrer, mas com qualidade. "Em relação ao que se gasta com a educação no Brasil, é um projeto caro. O ginásio vocacional de São Caetano já foi de meio período, de forma a baratear. Uma idéia era a de parcerias, envolver os pais e a comunidade, mutirões. Mas era outra época. Foi lindo porque as pessoas acreditavam nos seus ideais. Os professores trabalhavam em período integral e passavam o final de semana com a comunidade", conta Ângela.

Eles Construíram a Escola do Futuro

Eles Construíram a Escola do Futuro

GINÁSIO VOCACIONAL
"Modalidade de escolas, surgidas no estado de São Paulo como uma proposta de renovação do Ensino Médio, cuja origem remonta às 'classes nouvelles' da França.

2. Ginásio experimental, instituído pelo Governo do Estado de São Paulo, segundo Decreto nº 38.643/61, cuja finalidade seria abrir novas possibilidades de educação à juventude, apresentando um currículo de formação geral, acrescido de práticas e de atividades educativas, que permitissem aproveitar aptidões de educandos e desenvolver capacidades, dando-lhes iniciação técnica e orientando-os, em face das oportunidades de desenvolver capacidades, dando-lhes iniciação técnica e orientando-os, em face das oportunidades de trabalho e dos estudos posteriores. Os cursos vocacionais foram regulamentados pelo Dec. 38643/61, que também criou o Serviço de Ensino Vocacional, para coordenar os Ginásios Vocacionais." (SÃO PAULO (Estado). Conselho Estadual de Educação.

Resolução n. 7, de 23 de dezembro de 1963. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 44, n. 99, p. 99-120, jul./set., 1965.// Marques, Sandra M. Lunardi. Contribuição ao estudo dos Ginásios Vocacionais do Estado de São Paulo: o Ginásio Vocacional --Chanceler Raul Fernandes-- de Rio Claro. São Paulo, PUC, 1985.)
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

Onde a experiência ainda vive - Sinapse

Onde a experiência ainda vive

IZABELA MOI editora-assistente do Folha Sinapse 23/07/2002 - 03h05

Quando os Ginásios Vocacionais foram fechados, em dezembro de 1969, alunos e professores se dispersaram. Alguns contatos foram perdidos e se impôs um silêncio temporário sobre tudo o que tinha sido feito.
Ormuzd Alves/Folha Imagem

Ausonia Favorido Donato, diretora pedagógica do colégio Equipe

A herança dos Vocacionais, no entanto, estava viva na experiência dos profissionais que trabalharam lá. Muitas escolas particulares hoje reconhecem que essa transmissão de conhecimento ocorreu. "Cada um de nós foi para um lugar, tentando virar um núcleo de renovação", conta Cecília Vasconcellos de Lacerda Guaraná, que esteve na direção
de três unidades dos Vocacionais. Ela própria levou o estudo do meio e os acampamentos para o ginásio estadual Mozart Tavares de Lima, na Casa Verde, zona norte de São Paulo.

"Os profissionais que estiveram nos Vocacionais levaram sua experiência e as novas concepções pedagógicas para outras escolas, de uma forma ou de outra", conta Lucília Bechara Sanchez, atualmente uma das diretoras-executivas do colégio Vera Cruz, de São Paulo. Lucília foi uma das fundadoras dos ginásios vocacionais. Como o Vera Cruz foi fundado em 1963, ela acredita que a influência tanto das idéias que vingaram no Vocacional como das escolas experimentais (pluricurriculares) no Vera tem muito a ver com a contemporaneidade dos nascimentos. "Muitas correntes filosóficas e pedagógicas na época se misturavam."Apesar de não reconhecer uma herança pedagógica direta, explícita, Lucília vê similaridades com a experiência dos Vocacionais: foco na aprendizagem do aluno, projeto pedagógico que inclui interdisciplinaridade, avaliação formativa (auto-avaliação de professores e alunos). "Os Vocacionais foram uma experiência que funcionou e deu certo.

"O colégio Equipe, de São Paulo, recebeu a herança pedagógica diretamente de Maria Nilde Mascellani, coordenadora dos Vocacionais, em uma consultoria que durou alguns meses em 1978.

"Muitas experiências consideradas hoje inovadoras tiveram data de nascimento: 1962, com os Ginásios Vocacionais", lembra Ausonia Favorido Donato, atual diretora pedagógica do Equipe."O Equipe incorporou muitas dessas inovações e, é claro, em mais de 20 anos, demos um salto. Mas tudo nasceu, como experiência, há 40 anos", diz Ausonia.

Eliana Baptista Pereira Aun, diretora-geral do colégio Guilherme Dumont Villares, não viveu pessoalmente as experiências educacionais dos Ginásios Vocacionais, mas enxerga ali "uma semente fecunda que o tempo reconheceu como vanguarda pedagógica"."Se olharmos para o que a educação hoje está buscando ensinar os alunos a aprender a aprender, a fazer, o protagonismo juvenil, a avaliação por aptidões, o desenvolvimento de habilidades e competências, não apenas focado no conhecimento, o professor como mediador, o embrião está nos Vocacionais", afirma Eliana.

Leia mais: ·
O velho vocacional ensina de novo a aprender
Aprendi a conviver com as diversidades

Links relacionados:
Colégio Equipe - www.colegioequipe.g12.br
Colégio Guilherme Dumont Villares - www.col-dumont.com.br

Pioneirismo dos Ginásios Vocacionais -Tese



Tese mostra pioneirismo dos ginásios vocacionais
Estudo revela a importância dos estabelecimentos escolares, que foram extintos pela ditadura


Há exatos 34 anos, por força do regime militar, chegava ao fim uma das mais inovadoras experiências educacionais implementadas no Brasil: os ginásios vocacionais. A dissertação de mestrado Os Ginásios Vocacionais: a (des)construção da História de uma experiência educacional transformadora, apresentada recentemente pelo pesquisador Daniel Ferraz Chiozzini à Faculdade de Educação, investiga as origens, as contradições e as crises desses estabelecimentos dirigidos ao ensino de alunos de 5ª a 8ª séries.
Inspirados no projeto pedagógico da Escola de Sèvres e da Escola Compreensiva Inglesa, que defendiam a participação ativa e consciente do aluno em uma sociedade democrática, os ginásios vocacionais apresentavam baixíssimos índices de reprovação, de faltas e de evasão escolar.
Os colégios constituíram um marco na história da educação brasileira, caracterizado também pelo compromisso com os "excluídos" da sociedade. "Foi uma experiência tão bem-sucedida que a ditadura militar, com receio de sua repercussão, dos propósitos da escola e de sua expansão, violentamente os extinguiu. Além disso, seus idealizadores e professores foram presos e fichados como subversivos", observa o pesquisador Chiozzini, que em seu estudo foi orientado pela professora Ernesta Zamboni.
Segundo Chiozzini, a inovação dos ginásios vocacionais começava pelo currículo dos cursos. Os alunos tinham, além das matérias convencionais, disciplinas que para a época eram novidade, como Artes Industriais, Práticas Comerciais, Práticas Agrícolas, Educação Doméstica, juntamente com Educação Física e Artes Plásticas.
O conteúdo dessas disciplinas, além de proporcionar uma formação ligada ao mundo do trabalho, tinha ainda o propósito de desenvolver atividades práticas, associadas às demais disciplinas classificadas como "teóricas". Esse tipo de formação permitia ao aluno aperfeiçoar-se em todas as suas potencialidades e, a partir daí, identificar a sua vocação e o campo de trabalho onde poderia atuar de maneira mais competente e prazerosa. Por isso, o projeto trazia em seu nome o conceito "vocacional".
Difícil retorno – Os vocacionais foram implantados em escolas de seis cidades do Estado de São Paulo, entre 1961 e 1969: Americana, Barretos, Batatais, Rio Claro, São Paulo e São Caetano do Sul, por onde passaram quase seis mil estudantes. De acordo com Daniel, que se debruçou sobre o tema durante três anos, a pesquisa possibilitou constatar, em primeiro lugar, como foi possível a experiência verificada nesse estabelecimento de ensino que, em pouco tempo, revolucionou o ensino brasileiro.
Havia um projeto pedagógico e uma estrutura institucional diferenciados, que possibilitaram a implementação de uma série de inovações em relação à escola tradicional. Isso proporcionou que o método dessas escolas avançasse de maneira significativa em termos de interdisciplinaridade, processo de avaliação do aluno, currículo e vínculo da comunidade com a escola.
"É o que denominávamos de Estudo do Meio, que proporcionava um contato direto do aluno com o objeto de estudo, o que contribuía para a formação de uma consciência crítica e de um cidadão compromissado e atuante", explica o pesquisador.
O projeto curricular da época era marcado pela integração entre os problemas comuns da comunidade, onde o aluno estava inserido, e o conteúdo convencionalmente trabalhado no ensino fundamental. Dentro dessa perspectiva é que foi implementada uma série de inovações pedagógicas.
A cidade de Americana, situada a cerca de 30 quilômetros de Campinas, um dos mais importantes pólos da indústria têxtil do país, apesar de ter perdido muito de suas características, serve como bom exemplo da aplicação dessa metodologia. Ao estudar a industrialização, os alunos visitavam fábricas e discutiam questões relacionadas ao tema. "Os alunos estudavam desde questões associadas à fabricação de tecidos e os reflexos da industrialização no meio ambiente, até as relações de trabalho existentes na região". Tudo isso, porém, incluindo visitas a regiões que sofriam com o problema da poluição e entrevistando operários.
Chiozzini, no entanto, não acredita que os colégios vocacionais possam voltar um dia da maneira como foram originalmente concebidos. "Algumas instituições particulares de ensino têm condições de levar adiante um projeto com algumas semelhanças. Já o atual sistema público não permite a implementação de iniciativas educacionais como essa", conclui o pesquisador.
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Já existe a escola de amanhã






Quase três mil jovens paulistas estudam num novo tipo de ginásio onde tudo é diferente: não há exames, viaja-se muito, quase não há aula, e até a cola é livre. Trata-se de uma experiência fascinante que cinco anos e os educadores de todo o Brasil acompanham com muita esperança.
Fevereiro 1967
Já existe a escola de amanhã
Texto de José Hamilton Ribeiro – Fotos de Geraldo Mori

O deputado João Afonso, de 15 anos aproxima-se do balcão e começa a preencher um cheque, quando se lembra de alguma coisa. Chama o gerente do banco, dois anos mais novo que ele, e faz uma consulta:
- Eu vou-me embora o ano que vem, mas quero manter minha conta aqui. Qual é o mínimo que preciso deixar?
- Noventa cruzeiros.
- Quer ver meu saldo, por favor?
Um atendente vai ao arquivo, anota a quantia num papel e entrega a João Afonso, que faz umas contas e acaba de preencher o cheque. Troca-o por uma ficha, e passa a aguardar a chamada do caixa, um menininho loiro, que não terá mais de 12 anos de idade. O gerente puxa conversa:
- Então, deputado, será que o novo governador vai fazer muita coisa?
- Espero que sim. Sua equipe apresentou um plano de ação bem estudado e está com vontade de trabalhar.
O caixa chama seu número, o deputado João Afonso vai ao guichê, confere o dinheiro (mil e novecentos cruzeiros), coloca na careteira, despede-se do gerente e sai apressado.
Isto não é teatro infantil. É apenas uma cena comum na vida diária do ginásio João XXIII, de Americana, um dos cinco ginásios vocacionais que o governo do Estado de São Paulo vem mantendo, há cinco anos, experimentalmente. Toda a técnica pedagógica empregada é moderna. E essa é uma delas: aprender fazendo.
O banco é um banquinho de verdade, com mais de dois milhões de cruzeiros em depósitos; o deputado é um deputado de verdade, no governo estudantil do ginásio João XXIII. João Afonso retirou todo o dinheiro que tinha porque vai embora: formou-se. A conta aberta no banco será o último vínculo material que o ligará a uma instituição onde passo quatro anos movimentadíssimos, e de onde ele nem queria sair. No começo da ultima série, até ameaçou relaxar nos estudos para tomar bomba e poder ficar mais um ano. Mas mudou de idéia a tempo e chegou à ultima entrevista com a orientadora educacional, que ia aconselhá-lo sobre os rumos a tomar na vida:
- João, a sua ficha é clara como água. Se você puder, procure entrar para uma escola de aviação...
- Ganhei, professora! Ganhei uma aposta com meu pai. Eu sabia que era isto que a senhora ia me dizer.
O Serviço do Ensino Vocacional no Estado de São Paulo foi criado quando era secretário da Educação um homem de empresa, sr. Luciano Vasconcellos de Carvalho (Exposição-Cliper). O sistema teve cinco anos para provar que é bom, e o prazo terminou no ano passado. Agora, o governo medirá os resultados a fim de decidir se vai abrir novos ginásios, para ampliar o ensino vocacional pelo Estado todo ou encerrar a experiência, por não acreditar em sua eficiência.

Escola que ensina a estudar

Nos quatros anos de ginásio, o aluno aprende muita coisa, mas principalmente aprende a estudar. A escola vocacional é diferente das outras em tudo. Não tem nota, nem exame, nem matérias isoladas. Nem tem aula, se a gente pensar naquela situação de um professor falando do alto de sua mesa para 40 alunos distante. Seu objetivo não é apenas a escolaridade intelectual promovida pelos ginásios comuns. A meta é desenvolver a personalidade do aluno, ajuda-lo a descobrir o ramo de atividade para o qual tem aptidão e prepara-lo para enfrentar um mundo difícil e em permanente modificação.
O ginásio funciona o dia todo, com classes de 30 alunos, mistas. De preferência com igual número de meninos meninas. A convivência faz nascer amizade entre eles. E às vezes a amizade vai mais longe, como relata o jornalzinho Gaveta, da primeira série (entre 10 e 12 anos) do Ginásio Vocacional do Brooklin, São Paulo:
“ O Sérgio (1ª série C), confessou em voz alta que gosta da Maria Inês (1ª B). aliás, ela já namorou o Carlos Alberto (1ª C),o Luis (2ª B), e o Gil (1ª C), e confessa também que agora gosta do Sérgio. A Maria Inês diz que quando está ao lado dele fica barbaramente nervosa.”
O jornalzinho é uma atividade promovida e orientada pela área de Português, mas observada e consultada por todas as outras áreas (área é uma matéria ou grupo de matérias afins). Assim, a noticia sobre os namoros de Maria Inês chamou a atenção da orientadora e trouxe um bom tema para Educação Sexual, que é apresentada com naturalidade em todas que é apresentada com naturalidade em todas as séries, de acordo com o interesse e a maturidade dos alunos.
O aproveitamento das classes é testado pela bateria, uma espécie de prova onde a consulta é livre: o aluno pode recorrer ao que quiser – anotações, cadernos, mapas e livros. A única exigência é que faça com seu próprio esforço. Não importa que erre.
Os cinco ginásios vocacionais em funcionamento estão localizados em Batatais, Barretos, Rio Claro, Americana e São Paulo (Brooklin). Cada um tem um programa de estudo adaptado à sua cidade fundada por americanos, os alunos de primeira série podem começar o ano estudando a Guerra de Secessão do Estados Unidos. Enquanto isso, no ginásio de Batatais, os mesmos alunos de primeira série estão iniciando as atividades em volta de um quadro de Portinari: o pintor nasceu na região (Brodósqui) e deixou muitas obras espalhadas pela cidade, já em Barretos tudo pode ter seu começo numa fazenda, à beira de um curral de zebus.

Pai também vai a aula

O ensino segue a técnica dos círculos concêntricos. Os garotos não dão saltos no vazio, mas passam a estágios de conhecimento deslizando naturalmente de estágios anteriores bem mastigados. Às vezes o método não é compreendido. No meio do ano passado, um pai cuidadoso apareceu no ginásio vocacional do Brooklin e procurou a diretora:
- Olha, dona Tomires, não é que eu duvide do gabarito da escola. Mas meu vizinho tem um filho na mesma série do Junior, e eu andei examinando, ele sabe mais coisas de Matemática que o meu menino. Estou preocupado, a senhora sabe, será que o Junior passa no vestibular depois?
Não era o primeiro pai que estranhava a Matemática moderna do vocacional. O caso foi discutido em conselho e decidiu-se fazer um cursinho intensivo para os pais. Apareceram 240, que ganharam até diploma e aprender por que suas crianças às vezes parecem mais atrasadas que outras, em determinadas matérias: elas mastigam mais, para digerir melhor.
O ano escolar é dividido em bimestres, e em cada bimestre há uma nova unidade de estudo. A primeira unidade é o próprio ginásio vocacional. Todas as áreas preparam seu programa a partir dessa fonte.

Eles aprendem a fazer, fazendo

- Vocês já viram o Diário Oficial? É este jornal aqui. O exemplar que está em minha mão é do dia 27 de junho de 1961, uma data histórica para nós. Nesse dia, o ginásio vocacional começava a existir, por força de um decreto do governador do Estado. Todos os documentos oficiais saem no Diário Oficial, e, assim, este jornal acaba sendo uma das grandes fontes para conhecimento da vida do país.
É o professor de Historia falando, integrando sua matéria na unidade escolar. O professor de Geografia, ao perguntar à classe como é o caminho para o ginásio, começa a dar-lhe noções de relevo e topografia. Outro professor, pedindo-lhe para calcular a distancia entre suas casas e a escola, introduz as primeiras noções de Matemática.
O primeiro bimestre é um exercício de conhecimento mutuo. Os alunos descobrem o ginásio e adaptam-se a seus métodos; os professores conhecem os alunos, seus gostos, condições familiares e problemas. Então o ritmo começa a apertar. Ao fim do segundo mês, cada classe já esta organizada em cinco ou seis equipes de trabalho, segundo uma técnica chamada sociograma, em que cada membro do grupo completa o outro e onde de descobre e se incentiva a liderança. Ninguém recebe dever para fazer em casa. A equipe, sim, tem tarefas, que podem ser resolvidas no ginásio mesmo. Os membros da equipe estudam seus problemas juntos, primeiro sob a orientação do professor, depois fiscalizando-se a si próprios.

Um caso de namoro

Dona Olga, orientadora educacional, recebe uma queixa:
- O Jaime, da segunda série C, anda negligente, dispersivo, e todo o trabalho da equipe está sendo comprometido com seu comportamento.
A orientadora consulta vários professores, conclui que o menino tem algum problema e o procura:
- Então, Jaime, que há com você? Dizem que está meio desanimado, não se dedica mais, anda calado. O que houve?
- Não é nada, dona Olga.
- Vamos, rapaz. Nós sempre nos entendemos tão bem.
O menino cede. Esta com problemas de convivência na equipe. Dois colegas, Pedrinho e Lucas, andam fazendo piadinhas a respeito de seu namoro com a Dirce. Isto o deixa tão amargurado que ele não pode nem ver a cara dos outros dois. E propõe que eles sejam afastados da equipe. Dona Olga analisa a situação junto com Jaime. Mostra-lhe que a solução apontada é uma to de força. O que está havendo é uma falta de consideração de Pedrinho e Lucas para com os colegas Jaime e Dirce, e ele precisa reagir construtivamente.
- Fale com eles – sugere dona Olga.Vá calmo, mas decidido: a razão está do seu lado. Diga que pensou no assunto e que estão errados; seja enérgico e mostre-se disposto até a uma briga. Depois de tudo isso você vem aqui e me conta o resultado.
Jaime, depois de uma conversa “homem para homem” com os dois colegas, esclareceu a situação e ainda saiu fortalecido:ganhara o respeito de Pedrinho e Lucas, sem perder a namorada. Às vezes, porém a incompatibilidade numa equipe é mais profunda, e só se resolve com a transferência de alguns membros para outras equipes. Em casos extremos de desajustamento, promove-se a matricula do aluno em outro ginásio.

A técnica de aprender fazendo

Maria Helena era um terror. Doze anos, magrinha e feia, não ficava mais de uma semana em cada equipe: brigava logo. Não rendia em nenhuma área e nem havia grupo que a suportasse. A orientadora educacional levou quase um ano para encontrar a solução: Educação Física. A professora de ginástica, agindo segundo um plano traçado com a orientadora e outros professores, fez de Maria Helena a líder da matéria. Ela escalava os times, fiscalizava os horários, tomava conta do material e muitas vezes até apitava os jogos. E, passando a canalizar toda sua energia para o que gostava, começou a acertar no resto. Não brigou mais com ninguém, ajeitou-se numa equipe e chegou até a ser disputada por outras. É, agora, ótima aluna, com um sonho: ser professora de Educação Física.
O trabalho em equipes, a técnica de aprender fazendo, o estudo do meio e a execução de projetos tornam o ginásio um local ativo e movimentado. Já na primeira série os alunos começam a fazer: meninos e meninas de 10 a 12 anos são encarregados do funcionamento da cantina – muito freqüentada na hora do recreio.
Orientados pela área de Práticas Comerciais, enquanto tomam conta do estabelecimento, eles vão recebendo, sem sentir, aulas de Matemática – cálculos, juros, operações comerciais; de História – como surgiu o comércio no mundo, que paises cresceram à custa dele; Português – redigir relatórios e prestações de contas; Geografia – que alimentos são encontrados na região, que tipo de solo favorecem o crescimento dos cereais utilizados na cantina; Ciências – conservação de alimentos, combinação de elementos que entram na fabricação dos refrigerantes; e assim por diante.
Nem sempre tudo corre bem. No ginásio de São Paulo, o professor de Práticas Comerciais descobriu que um dos encarregados do caixa da cantina, logo no primeiro mês, tinha avançado no dinheiro. Discutiu a questão com a orientadora e, dentro do espírito de autodisciplina que o ginásio procura despertar nos alunos, ficou resolvido que só a própria equipe responsável pela própria cantina deveria tomar uma decisão. Simultaneamente, o professor de Práticas Comerciais entrou com as aulas de balancetes, explicando-lhes que qualquer descuido financeiro apareceria no fim do mês. O plano deu certo. Antes mesmo que os outros descobrissem, o aluno faltoso procurou os companheiros e contou suas dificuldades. O dinheiro foi reposto pela equipe e no fim do mês o balancete apresentado à orientadora estava certinho. Mesmo assim, havia uma surpresa para os meninos:
- Nós soubemos que, por falta de controle, vocês tiveram dificuldades com o caixa. Isto é normal, uma vez. E quem erra uma vez, aprende a acertar para sempre. Não vamos fazer rodízio de equipe na cantina este mês. Vocês vão continuar com ela e verão que manter o caixa em ordem é fácil.
A equipe sentiu-se muito importante, com isso e o menino conseguiu reabilitar-se totalmente.

Jovem formado no vocacional vê a vida sem medo

- Dona Glória, não agüento mais fingir. Vou estourar com meu pai.
E contou tudo. O pai queria um jurista na família, e conhecendo o sistema do vocacional, orientava o menino para que desse certo seu encaminhamento para a Faculdade de Direito.
A orientadora tranqüilizou-o e prometeu conversar com seu pai. Hoje, Luis Carlos é um dos melhores alunos numa escola técnica em São Paulo.
Uma pesquisa feita sobre o primeiro ano de atividade dos ex-alunos revelou que os jovens encaminhados aos cursos indicados no laudo vocacional, são alunos acima da média, interessados e estudiosos. Os que forma matriculados em cursos contra-indicados pelo laudo são alunos abaixo da média ou, quando muito, regulares.

Uma crise política

A medida em que os ginásios vocacionais vão-se tornando conhecidos, uma situação nova ocorre: os pais se consideram meio donos das escolas. Discutem programas, cotizam-se para consertar janelas ou comprar instrumentos e até fazem cursos. Benedito Luis Fonseca, que tem filhas no vocacional, afirma:
- Ser pai de aluno nesse ginásio dá mais trabalho que estudar nele.
O arquiteto Pedro Torrano, da diretoria de Obras Públicas, fez o projeto do ginásio vocacional de Rio Claro em dois meses, trabalhando nele noite e dia.
- E isso – diz ele – não é só porque tenho um filho no ginásio, não. É que também sou um apaixonado pelo sistema, e acredito nele.
Em meados do ano passado, um movimento de pais de alunos impediu que o Serviço de Ensino Vocacional fosse envolvido pela roda da política. O secretário da Educação quis matricular um protegido que não havia sido classificado no exame de seleção no ginásio de São Paulo, onde anualmente aparecem 1.500 candidatos, para 120 vagas. A direção da escola negou-se e foi destituída pelo secretário. A Associação de Pais e Amigos do Vocacional não aceitou a situação. Fez várias assembléias, sensibilizou todo o Estado e conseguiu fazer o secretário voltar atrás. Durante o período de crise (quase um mês), os próprios alunos se encarregaram das atividades escolares. Os da quarta davam aulas para os da terceira série, estes para os da segunda, os da segunda para os calouros.
As classes funcionam o dia todo, das 8 as 5 da tarde. Professores e alunos, almoçam e tomam lanche no próprio ginásio. Os professores pagam suas refeições. Os alunos que podem pagam o preço normal ou até um pouco mais, se a isso se dispõem. Os que não podem não pagam e, às vezes, gozando bolsas de estudo que o ginásio consegue com empresas comerciais e industriais, até levam dinheiro para casa.
O ano escolar começa mais cedo e termina mais tarde, mas nas férias não são menores que as dos ginásios comuns, porque há uma semana de folga no meio do primeiro semestre, e outra no segundo. As férias dos professores são menores. Eles aplicam três semanas delas para atualizar métodos, planejar aulas e analisar atividades. Durante as aulas, tiram um sábado por mês para acompanhar projetos. Uma vez por semana realizam junto com a direção e os orientadores o Conselho Pedagógico, em que se estabelece a integração das unidades escolares nas várias áreas e se organizam os locais para o estudo do meio.

Professores de nível universitário

O ensino é integrado; isto significa que, na semana em que o professor de Matemática ensina razões e proporções, a área de Artes Industriais ensina escalas e medidas utilizadas nas construções: a de Práticas Comerciais ensina juros e percentagens; a de Ciências ensina fórmulas químicas; e assim por diante.
Todos os professores tem nível universitário e, antes de lecionar no ginásio, fazem um curso de três meses para se adaptarem ao método.
- Entrar no vocacional é fácil – diz uma jovem professora de Barretos. Mas só consegue ficar mesmo quem tem muito amor para dar.
Dona Maria Nilde Mascellani pe a coordenadora do Serviço do Ensino Vocacional e dirige a experiência desde o começo. A idéia nasceu da observação de duas classes experimentais que ela ajudou a criar no Instituto de Educação de Socorro, em 1958. filha de pai brasileiro e mãe austríaca, trabalha dezoito horas por dia mas tem sempre um sorriso juvenil no rosto. Sua mãe, dona Margarida, comenta: “Essa ai é que nem bicicleta: precisa estar correndo para ficar de pé. Se tira férias de uma semana que seja, aparece doença de todo lado.”
Dona Maria Nilde acha que São Paulo precisa resolver seus problemas de educação não só em quantidade de salas de aula, mas também só é possível com o preparo de uma nova mentalidade no professor e uma modificação na estrutura de ensino. Em sua opinião, o ginásio vocacional fez estas duas coisas e procura preparar o estudante para uma situação ajustada à realidade de nossos tempos e de nosso país. A pedagogia moderna do vocacional busca eliminar as maiores falhas do ginásio comum, principalmente estas:
1 – Ensino acadêmico e palavroso, sem contato com a realidade; 2 – falta de unidade entre as matérias; 3 – sistema de promoção que ignora as diferenças individuais e coloca todos os adolescentes numa mesma bitola de capacidade; 4 – a distância entre a escola e a família; 5 – educação com objetivo puramente intelectual, quando é necessário haver uma educação mais ampla, que envolva educação moral e cívica, religiosa, estética, estética, física e de iniciação profissional.
E os resultados, segundo dona Nilde, são animadores:
- O ginásio vocacional não profissionalizam seus alunos, mas nosso formandos terão maiores oportunidades de conseguir emprego, trabalharão naquilo que gostam e serão ótimos profissionais.
Dona Maria Nilde tem grande esperança no novo governo de São Paulo – “um governo sabidamente renovador”, diz ela. –(não entendi) em grandes perspectivas para o ensino vocacional, principalmente abertura de novos ginásios em cidades que já os solicitaram e instalação do 2° ciclo (algo mais que Clássico e Cientifico). Tudo vai depender do julgamento que os assessores de Educa
Cão do novo governador fizerem dos primeiros cinco anos de funcionamento. Uma das restrições é a de que o ensino vocacional fica mais caro para o Estado de que o sistema secundário comum. Dona Nilde raciocina:
- Talvez fique. O vocacional funciona o dia todo e mantém oficinas, ateliês, plantações, laboratórios e viagens. O que, naturalmente, custa dinheiro. Mas o importante é que, nos colégios vocacionais, nossos filhos recebem uma educação que realmente os prepara para a vida e os torna mais úteis ao país. E isto não tem preço...


Governo estudantil, um exercício de democracia

Em Batatais, o tema de estudo da quarta série foi “Condições de Saúde e Habitação no Mundo de Hoje”. E quando buscaram uma aplicação prática do que haviam estudado, os alunos descobriram que sua cidade ainda não tinha estação de tratamento de água. Fizeram um plano, encaminharam à Prefeitura e agora a estação esta sendo concluída.
A execução de projetos é outra técnica dôo colégio vocacional. No começo do não, cada aluno escolhe um projeto que quer ver realizado. O ano passado, um grupo de Americana instalou uma estação de rádio completa, dentro da área de Artes industriais. Uma equipe de São Paulo quis montar um computador eletrônico e está trabalhando nisso. Conjuntos de teatros e de música (inclusive ié-ié-ié) existem em todos os ginásios. Um deles, os ticos, de São Paulo, adaptaram o Pequeno Príncipe para o teatro e dizem, animados:
- Nós vamos ser a jovem guarda do TUCA. E também chegaremos a Europa...
O grupo de Batatais, no fim do ano, montou a peça mais comentada de todas: um ato de esperança na juventude do mundo, escrito por eles mesmos, chamado A Terra é Azul.

Alunos elegem o governo

As matérias dividem-se em três grupos: Cultura Geral, Iniciação Técnica e Práticas Educativas. Entre estas ultimas, uma recebe muito destaque: a Educação Social Moral e Cívica, que procura fazer do aluno um elemento integrado nas relações com a família, a comunidade e o pais. Nesta área, a técnica mais incentivada é a do governo estudantil.
O primeiro instalado, alguns dias na frente do de Batatais, foi o governo estudantil do ginásio de Americana. Através de eleições, os alunos elegem governador e deputados, tal e qual um regime democrático adulto. O Legislativo faz as leis, o Executivo aplica, o Judiciário vigia os dois. Todas as Secretarias de Estado funcionam. A da Fazenda mantém um banco do governo, inspetoria fiscal e coletoria. A da Agricultura, através de sua seção experimental, vendeu no ano passado mais de 100 mil cruzeiros de verduras e agora esta criando coelhos. Sua maior realização. Porém, é o posto meteorológico. Todo dia, Às 11 horas, a rádio de Americana anuncia: “Previsão do tempo, segundo dados fornecidos pelo Serviço de Meteorologia da Secretaria de Agricultura do governo estudantil de Americana...”
A Secretaria de Educação, entre outras coisas, edita um jornal – o Diário Oficial do governo. E a Secretaria da Segurança mantém uma polícia própria (os escoteiros). Muito solicitada quando há eleições ou excursões.
Atuando no governo estudantil, os alunos exercitam todas as artes da política, inclusive as jogadas e manobras eleitorais. Houve eleições me dezembro, para governador, vice-governador e deputados. Cláudio Rosa Gallo, da terceira série, magrinho e sabido, era um dos candidatos a governador. Dois dias antes das eleições, seus assessores fizeram um levantamento e verificaram que a situação de Gallo não era boa. Tinha menos de 40% dos votos. Era preciso fazer alguma coisa com urgência.
Gallo sabia que o governador em exercício não tinha muita simpatia pelo outro candidato, mas também não sabia se lhe daria apoio oficial. Pediu audiência, trancou-se numa sala com o governador e, no outro dia – véspera das eleições – circulou por toda a escola com um manifesto de apoio à candidatura Gallo, assinado não só pelo governador, como por todo o secretariado. Resultado: foi eleito com mais do dobro dos votos do adversário.
- Está certo – diz ele. O maior poleiro é sempre para o Gallo.
As matérias de Cultura Geral – Português, Matemática, Ciências, Estudos Sociais e Inglês ou Francês – são obrigatórias nos quatro anos. As matérias de Iniciação Técnica – Artes Industriais, Artes Plásticas, Práticas Comerciais, Práticas Agrícolas e Educação Doméstica – só são obrigatórias nas duas primeiras séries. Na terceira série, os alunos podem escolher duas dentre estas cinco ultimas, e se desobrigar das outras. As Práticas Educativas – Educação Física, Musical, Social, Moral e Cívica, Religiosa, Familiar, Artística – seguem durante os quatro anos.
O fim do curso, o aluno recebe um laudo vocacional que lhe indica as profissões para as quais tem aptidão. O laudo se baseia em três pilares: 1- a folha de observação do aluno, onde são anotados, de dois em dois meses, todos os dão
dos da sua vida escolar; 2- os testes psicológicos feitos a partir da primeira série, com provas de inteligência, aptidão e interesse; e 3- os projetos realizados e as escolhas feitas na terceira e na quarta série. A folha de observação contém anotações de duas naturezas: a) análise psicológica do aluno; b) análise da escolaridade – resultado de baterias, apreciação do interesse e da aplicação do estudante em cada área.
Ao fim de cada ano, a promoção ou reprovação, vai depender das anotações da folha de observação, que é analisada em conjunto por todos os professores. Levam-se em conta, também, fatores de ordem pessoal que possam ter influído no rendimento do aluno.
João Alberto, por exemplo, foi promovido este ano, apesar de ter andado mal em algumas áreas. A orientadora explicou na reunião:
- Este menino é de família pobre e inculta. Seu pai acaba de abandonar a casa e o estado emocional de João Alberto é instável. Reprová-lo será talvez, prejudicá-lo irracionalmente. Proponho que seja promovido e que na segunda série seja bem acompanhado nas áreas em que está mais fraco.
Todos concordaram.
Nas duas ultimas séries o ensino é dedicadamente orientado segundo as inclinações de cada um. E no fim do curso, o jovem recebe o certificado de conclusão do ginásio com o laudo vocacional, que pode ser assim:
“É um talento para laboratório, tem muita sensibilidade para fenômenos científicos. Aproveitamento insuficiente em Geometria e Português. Deve ser encaminhado para curso de Química.”

Os pais precisam compreender

É nesse momento que entra em ação a compreensão ou incompreensão dos pais:
- Eu queria que meu filho fosse o que não pude ser: médico. Agora o ginásio diz que devo matriculá-lo numa escola agrícola. Então meu menino não pode ser doutor?
No ginásio vocacional de São Paulo, onde os alunos são de classe média para alta, a compreensão dos pais é grande: 80% deles encaminham os filhos para os cursos indicados na ficha escolar. Em algumas cidades do interior, entretanto, a maioria dos pais resiste à orientação do ginásio. O caso do menino Luis Carlos é um exemplo.
Testes psicológicos, gráficos de aproveitamento e observações dos professores provavam que ele tinha aptidão para matérias técnicas, práticas. Mas em tudo o que dependia dele – projetos, entrevistas e escolhas – a conclusão era outra: queria ser advogado. Só na quarta série, poucos meses antes de acabar o ano escolar, Luis Carlos foi à orientadora.

Estudar o meio é conhecer, em contato direto com a realidade, o que se deve aprender. Este ano, no ginásio de São Paulo, o estudo do meio da área de Português da primeira série foi uma pesquisa sobre a Academia Paulista de Letras. Os estudantes visitaram o prédio, assistiram a uma sessão literária, entrevistaram o presidente, viram que livros escreveram os paulistas e aprenderam muita coisa de literatura. Após cada estudo do meio, os alunos devem entregar ao professor um relatório com suas impressões. Sobre a visita à Academia, Maria Ângela da 1ª série C, escreveu: “Quando crescer, quero ser romancista. E pretendo escrever muitos livros bacanas. Mas duvido que aqueles velhinhos me aceitem na Academia deles.”
A área de Estudos Sociais repartiu as classes em três grupos e levou cada um a um dos três poderes do Município: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Na volta, em assembléia geral, enquanto cada equipe contava como trabalham o prefeito, os vereadores, os juízes, o professor aproveitava para ir explicando a interdependência que existe entre os três poderes.

Uma nova jovem guarda

Os locais de visita não são escolhidos ao acaso. Os professores discutem antes; e, depois, procuram extrair dos alunos as opiniões que interessam em cada área. Assim, um local escolhido especialmente pela área de Ciências, serve também às de Geometria, Inglês, Práticas Comerciais e outras áreas. O estudo do meio deve acompanhar a evolução de cada ano escolar. Na primeira série, as pesquisas não feitas na própria cidade. Na segunda, quando se estuda o Estado, os alunos viajam para o litoral ou centros industriais, praias e portos, estabelecimentos comerciais e agrícolas. Na terceira, quando o centro de interesse é todo o país, as pesquisas podem ser feitas até em outros Estados. Na quarta série é o mundo que esta em foco e a visão que cada aluno adquire é testada num trabalho de observação direta dentro da própria comunidade, de modo que todos sintam que tem um papel a desempenhar na sociedade.

domingo, 29 de junho de 2008

PRIMEIRO SEMINÁRIO GVIVE DE EDUCAÇÃO - WWW.GVive.org.br

http://www.gvive.org.br/ Primeiro Seminario Gvive de Educação 23 e 24 de outubro de 2007 Imagine uma escola na qual as decisões são tomadas por professores, funcionários e alunos em conjunto. Uma escola que pensa o ato de ensinar sintonizado com o bairro, o município, a região onde se localiza. Que coloca permanentemente a questão: o que faz o homem para melhorar seu habitat? Essa escola existiu nos anos 60 e foi resgatada no I Seminário de Educação, organizado pela GVive – Associação de Ex-alunos, Ex-colaboradores e Professores do Serviço de Ensino Vocacional, realizado no auditório do Itaú Cultural, em São Paulo, nos dias 23 e 24 de outubro. Quem vivenciou a experiência dos Ginásios Vocacionais, tanto estudantes quanto educadores, estão de acordo que seu grande propósito foi apresentar um projeto pedagógico integrado, vivido e reavaliado no cotidiano.Os Ginásios Vocacionais, surgidos na década de 60, foram instituições de ensino comunitárias instaladas a partir de análises de características culturais e socioeconômicas das localidades onde eram criadas. Buscavam a apreensão integrada do conhecimento, a valorização do trabalho em grupo, o desenvolvimento de condições de maturidade intelectual e social, o exercício consciente do trabalho, as definições de opções de estudo e ocupações, a disposição para atuação no próprio meio e a descoberta da responsabilidade social.A proposta pedagógica apresentada era revolucionária. Lançava mão de estratégias de integração curricular, como estudos do meio, projetos de intervenção na comunidade e planejamento dos conteúdos pedagógicos, através da pesquisa junto à comunidade para favorecer o trabalho coletivo. As unidades eram coordenadas pelo Serviço de Ensino Vocacional (SEV), criado pelo Decreto estadual nº 38.643, artigo 302, em 27 de junho de 1961.O texto do Decreto, elaborado por uma comissão de educadores do ensino secundário e do ensino industrial, apresentava um projeto de estudo para o surgimento de uma escola que viesse ao encontro das reivindicações de uma sociedade mais democrática. Nessa comissão estavam os professores Osvaldo de Barros Santos, Técnico de Educação do Departamento de Ensino Profissional, Luís Contier, diretor do Colégio Alberto Conte, da cidade de São Paulo e Maria Nilde Mascellani, do Instituto de Educação de Socorro. Até 1968, seis unidades dos Ginásios Vocacionais foram instaladas no Estado. Em São Paulo (1962), na zona industrializada de Americana (1962), na zona agrícola de Batatais (1962), no centro ferroviário de Rio Claro (1963), na zona agropecuária de Barretos (1963) e em São Caetano do Sul (1968). Em dezembro de 1969, o governo militar extinguiu os Vocacionais, ocupando as escolas e prendendo pais, professores e alunos.Quase quarenta anos depois, o que a experiência pedagógica do SEV representa para os rumos da atual educação brasileira? Formação do Educador Já na capacitação dos professores, o Vocacional apresentava sua inovação em relação ao modelo tradicional de ensino público. Segundo Moacyr da Silva, que foi coordenador da unidade de Americana, isso era visto no processo de aperfeiçoamento permanente do educador. “Havia uma formação continuada centrada na escola. Os professores eram bem formados nas especialidades que abraçavam”. Além disso, existia uma preocupação com a integração interdisciplinar. “Nasce com o Vocacional a proposta de um projeto pedagógico integrado, vivido e reavaliado no cotidiano”, afirma Esméria Rovai, que foi coordenadora do serviço de audiovisual do SEV.Para a professora Esméria, a formação do professor em serviço representou uma inovação que capacitou o educador para encarar de outra forma a relação professor-aluno. “Não tinha isso de eu fechar a porta e ‘quem manda na sala sou eu’”. A preocupação se concentrava em descobrir o que o aluno deveria aprender, de acordo com a realidade em que vivia. “O Vocacional não chegava para o aluno e dizia: o que você quer aprender?”.Newton Balzan, professor dos Ginásios, destacou a atenção dada ao conhecimento sócio-econômico das regiões nas quais as escolas se inseriam. Para ele, as diretrizes traçadas levando em conta o meio em que o aluno vivia representaram a principal inovação do projeto. “O que me fez acreditar no Vocacional foi o planejamento. Antes de ir para Americana, eu já sabia quantas horas dormia um menino de lá”. Balzan acredita que esse trabalho fundamental deu certo pela vontade de pensar sobre as especificidades de cada grupo de estudantes e das demandas de suas comunidades. “Planejamento é uma atitude, um produto de reflexão”.Uma vez admitidos no SEV, os professores se encontravam em São Paulo, antes do início das aulas, para um ciclo de trabalhos sobre diretrizes pedagógicas e filosóficas, coordenado pela professora Maria Nilde. Inicialmente trabalhavam 36 horas por semana, carga horária estendida para 44 horas quando a legislação permitiu. Eram desenvolvidos durante o ano letivo, estágios nos quais equipes de orientadores pedagógicos acompanhavam os docentes. Para Moacyr da Silva, o trabalho em grupo significou a essência do projeto dos Vocacionais. “Não acreditávamos numa educação de qualidade se não houvesse trabalho coletivo”. Esse trabalho era realizado através de reuniões e palestras constantes entre os educadores, reforçando e ampliando as visões de ensino. “A escola não era só o lugar onde nós, educadores e orientadores ensinávamos, era também, onde aprendíamos”, pontua Moacyr. Proposta pedagógica sócio-antropológica “Que homem nós queremos formar?”. Para Olga Bechara, orientadora dos GVs, essa é a pergunta que fundamentou todo o processo pedagógico dos Ginásios Vocacionais. A partir dessa questão, professores e coordenadores entenderam que o coração do currículo deveria ser o homem, e os estudos sociais seriam o caminho para buscar esse homem. “Os estudos sociais eram os grandes impulsionadores das unidades pedagógicas”, reflete a professora Olga.Essa preocupação pode ser observada já no processo de seleção dos estudantes. As turmas formadas mantinham a mesma proporção entre as classes sociais de seu entorno. Os alunos eram escolhidos a partir de uma pesquisa, de origem social, dentro da comunidade a que cada unidade pertencia.Marta Kohl, professora da Universidade de São Paulo e ex-aluna do Vocacional, foi buscar nas idéias do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky, paralelos com a proposta do SEV, a fim de explicitar a concepção diferenciada de ensino desenvolvida nos Ginásios. Ela parte do conceito de intencionalidade do ato educativo, afirmando que o desenvolvimento não acontece espontaneamente, devendo, sim, haver interferência no processo de aprendizagem. “Essa intervenção educativa estava presente desde o início do projeto”.Essa idéia é reforçada por Olga Bechara, que destaca o método de acompanhamento utilizado pelos docentes. “Não era espontaneísta. Havia uma linha, uma diretriz”. Isso se traduz, segundo os estudos de Marta, na elaboração de uma proposta com metas claras, numa pedagogia de síntese e no pensar voltado para um aluno historicamente integrado. Isso significa, para Esméria Rovai, um projeto fundamentado numa proposta sócio-antropológica. “O SEV está assentado em valores universais, em valores fundamentais do homem”, explica a professora.Outra formulação de Vygostky levantada por Marta é o papel do Vocacional como espaço de ruptura com o cotidiano. Para a pesquisadora, isso se verifica no trabalho iniciado no que está próximo do estudante, levando para o desconhecido; no que é concreto e chega ao abstrato. “O que o aluno traz é o ponto de partida, não de chegada, a escola age como ponto de ruptura”. Isso passa pela concepção de ensino como investigação, associado à pesquisa, integrando um vasto campo de disciplinas e aliando teoria e prática, proporcionando ao educando a oportunidade de extrapolar a experiência cotidiana para pensar no contexto histórico no qual está inserido.Dessa forma, Esméria explica que os Ginásios, a despeito do nome, se propunham a ser muito mais do que simplesmente escolas técnicas. “O Vocacional não foi uma escola técnica, não foi uma escola profissionalizante, foi uma proposta de iniciação científico-tecnológica”. Segunda a professora, a integração entre ciência e tecnologia aplicada ao ensino foi um dos pioneirismos do SEV.Na prática, isso era aplicado através de um ensino livre, feita a partir de estudos dirigidos, monografias e estudos do meio. Nesses processos, segundo Moacyr, além da iniciação científico-tecnológica, os Ginásios Vocacionais proporcionavam, tanto para os educadores quanto para os educandos, um melhor conhecimento de si mesmos. “Os alunos iam se conhecendo e os professores também iam se conhecendo”.Para a maior parte dos ex-alunos do Serviço Vocacional, os estudos do meio representam uma das mais marcantes experiências educativas pelas quais passaram. Eles se caracterizavam por uma pesquisa iniciada a partir do bairro da escola, passando a seguir para o estudo da cidade onde ela estava inserida e depois para o país e o continente, na proposta de caminhada do próximo para o desconhecido. Um desses estudos levou alunos da terceira série do Vocacional de Rio Claro (equivalente à sétima série atual), a realizarem uma viagem às cidades históricas de Minas Gerais.De acordo com Sandra Lunardi, professora da PUC-SP, que estudou o projeto do Ginásio Vocacional rio-clarense, os estudos do meio eram uma forma de professores e alunos se aprofundarem ao mesmo tempo em que se politizavam e aprendiam numa proposta multidisciplinar. A comissão organizadora da viagem, por exemplo, contava com a presença dos estudantes, que decidiam sobre a alimentação do grupo e gerenciavam as finanças, desenvolvendo-se numa perspectiva pluri-curricular. “Eu nunca vi uma pedagogia atender tão completamente o que é o homem”, declara Sandra.Pedro Pontual, ex-aluno do Vocacional, lembra do papel dos estudos do meio na relação com as cidades nas quais os Ginásios estavam inseridos. “Mais que se situar numa comunidade, a escola deve saber dialogar com essa comunidade e isso os Vocacionais sabiam”. Pontual usa como exemplo visitas realizadas à fábricas, nas quais patrões e empregados eram entrevistados pelos estudantes, interagindo no processo de aprendizado. Cita ainda Paulo Freire ao lembrar dessa experiência. “Havia uma politicidade inerente à prática educativa”. Foi essa politicidade que levou os militares a afirmar que o “problema” dos estudos do meio residia na explicitação da luta de classes que eles geravam. “Os militares achavam que os estudos estavam preparando os alunos para a guerrilha urbana”, completa Moacyr. Escola como lugar de transcendência O projeto do SEV pretendia afastar o aluno da experiência individual e contextualizada através de reflexão, análise e planejamento, segundo Marta Kohl. Isso passava pelo desenvolvimento de consciência sobre a própria proposta pedagógica por parte dos estudantes. Para Marta isso criava um “descolamento do indivíduo daquilo em que ele está imerso”, levando-o a pensar o mundo além. Newton Balzan desenvolve a idéia, acreditando que esse processo se dava através do trabalho conjunto de educadores e estudantes. “Eram professores e alunos procurando respostas para problemas artísticos, científicos, culturais, políticos”.As relações inter-pessoais tiveram uma importância que se tornou determinante dentro dos Ginásios. Desde o projeto de escola em tempo integral, reunindo os alunos durante as refeições e festas, passando por trabalhos em equipe, estudos em grupo e ações vocacionais, a proposta sempre buscava na convivência, os caminhos para o aprendizado. Marta acredita que isso contribuía de maneira decisiva na integração do educando com o projeto pedagógico. “Tudo isso alargava a relação do aluno com a proposta educativa”.Para além dessas dinâmicas, a coordenação do SEV considerava fundamental a participação dos estudantes nas discussões sobre os projetos de planejamento e avaliações. Maria Cristina Videira, outra ex-aluna do vocacional, destaca o papel relevante que a auto-avaliação exercia na construção sócio-psicológica dos educandos. “A auto-avaliação não pesava, ela valorizava a responsabilidade de olhar para você”.Ary Jacobucci, também ex-aluno e autor do livro “Revolucionou e Acabou?”, que faz um breve resgate do Ginásio Vocacional de Americana, reforça o papel de destaque do processo de auto-avaliação, relacionando-o com a tomada de uma postura auto-crítica por parte dos alunos. “O processo desenvolvia em nós a honestidade de se auto-avaliar”. Complementava essa proposta o ideal de que o acompanhamento continuado era a melhor forma de se observar o desenvolvimento do estudante. “Importava como você evoluía”, é o que diz Paulo Martins, presidente da Associação dos Ex-alunos e Amigos do Vocacional.Na concepção de Lucila Bechara, a auto-avaliação se insere numa série de posturas que permitiram aos Ginásios Vocacionais serem uma experiência inovadora. “Com a auto-avaliação o aluno ia tomando conhecimento de si mesmo”. Proposta político-pedagógica Outra característica apontada por Lucila é o posicionamento dos professores diante do aprender, diferenciado do ensino tradicional. “É um choque de culturas”. Pedro Pontual acredita que esse choque se deve à gestão democrática do ensino praticada no SEV. Alunos e funcionários participavam das discussões junto aos professores, e todos se empenhavam em “trabalhar incansavelmente a qualidade do ensino”. Pontual destaca dentro dessa proposta o respeito ao saber dos educandos, o saber da experiência feita, a educação inclusiva, potencializadora de diversidades e o entendimento da dimensão política do aprendizado, encontrando eco nas formulações de Paulo Freire. “Tanto na experiência dos vocacionais quanto na obra de Paulo Freire há uma relação indissociável na proposta pedagógica e política”.Essa relação acabou por ser um fator determinante na extinção do SEV. Sandra Lunardi destaca que durante sua existência o Vocacional enfrentou nove secretários da educação diferentes. No processo, sempre a tentativa de distanciar a discussão e reflexão política da prática educacional. “Separar aspectos pedagógicos dos políticos é muito mais que ser arbitrário, é cometer injustiça” aponta Sandra. “Uma inovação educacional para ser substantiva”, finaliza Pedro Pontual, “deve ter uma plataforma político-pedagógica”.De acordo com Sandra, a integração entre aspectos pedagógicos e políticos passava por aspectos fundamentais do currículo dos Vocacionais. Mais do que pensar politicamente, a proposta buscava suscitar uma visão antropológica da cultura, organizada num grande tema, o brasileiro no mundo. É aí que entram novamente os estudos do meio como forma privilegiada de aprendizado. “A cada novo conhecimento o aluno retomava a repercussão daquilo na cidade, no país, no continente”. Pensar o futuro Pedro Pontual lança a pergunta: que educação se quer para esse país? Para ele, a política neoliberal aplicada às políticas pedagógicas durante toda década de 90 trouxe sérios problemas para o ensino brasileiro. Newton é sucinto na resposta à questão: a solução para hoje continua sendo o Vocacional. “A escola atual é uma escola nojenta, feia. No Vocacional tínhamos melhores condições. Nós não dávamos aulas. Nós trabalhávamos com os alunos”.Todos que passaram pela experiência do Vocacional destacam a importância desse trabalho coletivo. Moacyr lembra a participação da comunidade, dos pais dos alunos, nos rumos dos Ginásios. Essa proposta vai ao encontro, novamente, do ideal de Paulo Freire de uma escola progressista que se apresenta como um centro aberto para a comunidade.Observando a experiência quatro décadas depois, Olga Bechara afirma que o Ginásio Vocacional se constituiu como “uma escola de ensino geral com potencialidades para o trabalho” que levava em conta as expectativas e aspirações das famílias. Dentre suas propostas, eram ministradas aulas de práticas comerciais, artes industriais, artes plásticas, direcionando os alunos para os ramos em que apresentassem maior interesse e aptidão.Para Esméria Rovai fica a lembrança de um tempo de intenso trabalho em grupo. “Hoje não existe mais aquela coisa do projeto coletivo que tinha naquela época”, recorda. Quando questionada sobre as potencialidades do Vocacional hoje, ela é enfática quan do diz que acredita que sua proposta pedagógica continua válida, mas frisa que “Não é para ser repetida, mas adaptada para os tempos atuais”.Paulo Ângelo Martins também acredita nas potencialidades do Vocacional nos dias de hoje. “No SEV nós vemos um projeto pedagógico que funcionou”, reflete. “É um projeto ainda possível no Brasil. Nós temos a experiência do que aconteceu”. EXTRAIDO D0 SITE DA GVIVE.

I SEMINÁRIO GVIVE DE EDUCAÇÃO - Site Cenpec

Cenpec - I SEMINÁRIO GVIVE DE EDUCAÇÃO

Título, I SEMINÁRIO GVIVE DE EDUCAÇÃO. Data e hora de início, 23 Outubro 2007 Terça 19:30 (GMT+00:00). Data e hora de término, 24 Outubro 2007 Quarta 22:30 ...
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Título
I SEMINÁRIO GVIVE DE EDUCAÇÃO
Data e hora de início
23 Outubro 2007 Terça 19:30 (GMT+00:00)
Data e hora de término
24 Outubro 2007 Quarta 22:30 (GMT+00:00)

Local
ITAÚ CULTURAL
Endereço de contato
Av.Paulista, 149 - tel: 5096-6288 ou pelo e-mail: gvive@uol.com.br

Descrição
INSCRIÇÃO GRATUITA - Vagas limitadas. Reserve seu lugar até o dia 15 de outubro

Criada em 1961, a experiência dos Ginásios Vocacionais é um marco na história da educação pública de São Paulo e do Brasil. Em 1968, um decreto do regime militar extinguiu o Serviço de Ensino Vocacional do Estado de São Paulo.Resgatar os principais aspectos dessa experiência inovadora, sobretudo a atualidade das contribuições político-pedagógicas dos Ginásios Vocacionais, é um dos objetivos do Seminário Educação: Atualidade e Ginásios Vocacionais.

Dia 23: DEBATES EM CENA vai discutir sobre a atualidade das contribuições do projeto político pedagógico dos Ginásios Estaduais Vocacionais contando com a participação, sob a mediação de Elisa Maria Pitombo, de Ângela Rabello Maciel de Barros Tamberlini, Esméria Rovai, Moacyr da Silva, Marta Kohl de Oliveira e Pedro Pontual.

Dia 24: o DIÁLOGO ENTRE EDUCADORES será aberto com o depoimento de Olga Bechara, uma das idealizadoras deste projeto para, em seguida, se iniciar uma roda de bate-papo formada por diversos profissionais da área da Educação egressos dos Ginásios Estaduais Vocacionais do Estado de São Paulo: Ary Meirelles Jacobucci, Flávia Aidar, Maria Cristina Videira, Newton Balzan, Wanda Godoy, mediado por Vanda Noventa Fonseca.
Hino do Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha - GEVOA
Doô GV traga o espírito,
Sempre na mente, Sempre na mente, Sempre na mente,
Doô GV traga o espírito,
Sempre na mente, Sempre na mente estará….
Doô GV traga o espírito,
No coração, No coração, No coração,
Doô GV traga o espírito,
No coração, No coração estará….
Doô GV traga o espírito,
Junto de mim, Junto de mim, Junto de mim,
Doô GV traga o espírito, Junto de mim, Junto de mim estará….
Doô GV traga o espírito,
Sempre na mente,
No coração, Junto de mim,
Doô GV traga o espírito,
Sempre na mente, Junto de mim estará….
Letra---
musica---
1962 -SP

Unidades dos Ginásios Vocacionais

As unidades dos Ginásios Vocacionais no Estado de São Paulo :

Brooklin – Ginasio Vocacional Estadual “Osvaldo Aranha” -1962





Americana – Ginásio Vocacional Estadual “Papa João XXIII”- 1962




Rio Claro – Ginásio Vocacional Estadual “Chanceler Raul Fernandes” -1963







Barretos – Ginásio Vocacional Estadual “Embaixador Macedo Soares” 1963







Batatais- Ginásio Vocacional Estadual Candido Portinari - 1962





São Caetano do Sul – Ginásio Vocacional Estadual de Vila Santa Maria 1968







GEVOA

GV Rio Claro

GVCP-Batatais

GV Barretos

GEVA-Americana

GV StaMaria-Sao Caetano do Sul